Ponto de Cultura da Sustentabilidade, no Mato Grosso do Sul, introduz inovações para a bioconstrução no país

Reunir as atividades culturais de uma cidade em espaços sustentáveis é a função de um “Ponto de Cultura da Sustentabilidade”, projeto instalado em pequenos municípios do país a partir do Programa Energia Social, da Odebrecht Agroindustrial, que criou um sistema participativo de gestão local, em que a comunidade decide quais ações prioritárias serão instaladas em seu município. Ao avanço no processo participativo somou-se o ineditismo das técnicas construtivas usadas nos Pontos de Cultura, hoje com edificações inspiradoras para novos projetos de bioconstrução no país.

O Ponto de Cultura da Sustentabilidade da cidade de Nova Alvorada do Sul, em Mato Grosso do Sul, diferencia-se pela inovação de seu sistema construtivo, em tijolos de solocimento, tratamento de esgoto através de bacias de evapotranspiração, conhecidas popularmente como “fossas de bananeira”, captação de água da chuva, passarelas suspensas em eucalipto, e diversos elementos que usam conceitos atuais aliados ao resgate de técnicas e tradições antigas. O projeto é assinado pelo Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (IPEC) e tem supervisão e consultoria em bioconstrução e tecnologias sustentáveis pelo Instituto Auá de Empreendedorismo Socioambiental e pela CAN Sustentável.

Os Pontos de Cultura também vêm se colocando como ferramentas de educação, com o uso de materiais e mão-de-obra local, incentivando a formação e disseminação desses materiais e profissionais especializados. Em Nova Alvorada do Sul, todo o processo de criação do projeto ocorreu em reuniões abertas com diversos representantes do município, como prefeitura e secretarias, comunidade, empresa financiadora, e a mediação dos profissionais de permacultura e arquitetura.

Cinco projetos de Pontos de Cultura de Sustentabilidade foram criados, nas cidades de Nova Alvorada do Sul (MS), Mirante do Paranapanema (SP), Teodoro Sampaio (SP), Caçu (GO) e Cachoeira Alta (GO). O conceito de permacultura – que consiste na implantação de “ecossistemas produtivos” que mantenham a diversidade e resistência dos sistemas naturais, promovendo o uso de energia, moradia ou produção de alimentos de forma harmoniosa com o ambiente – permeia os projetos, que potencializam o uso do espaço sem grande impacto, com diversas ferramentas de design.

“Acreditamos ser possível ocupar os espaços de forma sustentável, atuando da escala arquitetônica (em edificações) à urbanística (no bairro ou cidade)”, reforça Samuel Protetti, do Conselho de Gestão do Instituto Auá.

Para João Lucas Neves, arquiteto responsável pela supervisão da obra, o projeto de Nova Alvorada do Sul vai além do uso de técnicas sustentáveis, incorporando também as reais necessidades da comunidade local. “Mas há dificuldades em inserir essa visão da bioconstrução e do projeto participativo junto a associações de normatização e junto a própria classe de arquitetos e ao atual sistema de aprovação de projetos em órgãos públicos, pois apesar dessas tecnologias já serem utilizadas em todo o mundo, os conceitos ainda são pouco debatidos e conhecidos no Brasil”, relata.

Ponto de Cultura 01

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Conheça aqui algumas das técnicas bioconstrutivas usadas no Ponto de Cultura de Nova Alvorada do Sul:

Captação de água de chuva – Todos os telhados do Ponto de Cultura, captam a água, com capacidade de armazenamento de 45 mil litros em cisternas enterradas de ferrocimento, e mais 25 mil litros em reservatório metálico elevado.

Passarela suspensa –  Feita com madeira de reflorestamento, em eucalipto tratado, plantado na região, tem sua estrutura suspensa com o objetivo de manter o micro habitat criado, além de permitir aos visitantes a observação interação com a natureza abaixo de seus pés.

Cisternas – Construídas em ferrocimento, um sistema construtivo que traz grandes vantagens como economia em material, eliminando o uso de agregados (tipo brita ou cascalho) e estimulando a autoconstrução (uso de mão de obra não especializada); sua forma circular economiza espaço no terreno, enfim a cisterna em ferrocimento se mostra uma tecnologia social, de baixo custo e fácil execução.

Equipamento Solar – Os banheiros são alimentados com água quente sem uso de chuveiros elétricos, através de coletores solares, para aquecimento da água, economizando energia elétrica e educando os usuários para o uso do sol como fonte de energia.

Iluminação interna – Prevalece o uso natural de iluminação em todos os prédios do Ponto de Cultura, e reforçando este conceito, os banheiros têm telhas translúcidas, para que se aproveite ao máximo a luz do dia.

Reciclagem de lixo – Sistema de compostagem e coleta seletiva.

Ventilação Natural – A ventilação natural acontece com grandes aberturas nas janelas e portas, com o design octogonal dos prédios e os pisos elevados; a proposta é que com esse design, os prédios não necessitem de condicionadores de ar, substituídos por elementos que estimulam o sistema de ventilação cruzado aliado à geração de “micro climas” criados pelos jardins de chuva; isto inclui um paisagismo inteligente, onde o consórcio de plantas e água da chuva cria regiões de resfriamentos, próximos às aberturas de portas e janelas, possibilitando a diminuição de temperatura no entorno dos prédios.

Tratamento biológico de esgoto – Trata-se de um sistema fechando, com as chamadas de bacias de evapotranspiração, onde não há infiltração no solo, eliminando assim qualquer risco de contaminação do solo, rios, lagos e lençóis freáticos; o consórcio de plantas, cria um sistema natural aliada a câmaras aeróbias e anaeróbias, garantindo o funcionamento do sistema e eliminando qualquer risco de proliferação de patógenos.

Cúpula – Traz formas não convencionais, com formas geométricas presentes na natureza, e também como resposta à necessidade de solução a grande incidência de vento na região, com aerodinâmica que permite diminuição da carga de ventos; pela sua forma cilíndrica, a cúpula devido a sua forma, permite uma maior captação de água da chuva.

Sistema Construtivo Geodésica – A Geodésica com sua estrutura autoportante, que utiliza conceitos milenares de distribuição de cargas e esforços, foi o sistema escolhido como substituição a estruturas convencionais de construção e, aliada ao sistema de ferrocimento, permitiu durante a obra uma economia significativa de materiais como aço, brita e madeira.

Tijolos de solocimento – Sistema em terra crua mais aceito atualmente, o tijolo de solocimento permite estrutura de ferragens embutidas em seus furos, distribuindo melhor a carga de peso sobre as paredes, tubulações elétricas e hidráulicas, dispensando a quebra de paredes; os furos dos tijolos surgem como importantes elementos para isolamento térmico de calor e frio, além do isolamento acústico e da proteção de umidade.

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