Pomares da Mata Atlântica começa com envolvimento de produtores de Mogi das Cruzes

Proteger as águas, o solo e gerar renda para o produtor rural com as espécies nativas, resumem a originalidade do projeto Pomares Mata Atlântica, do Instituto AUÁ e Fehidro – Fundo Estadual de Recursos Hídricos, que acontecerá por 18 meses no Alto Tietê (SP). O diferencial está em criar a demanda para estes produtos ao mesmo tempo em que se planeja a produção no campo, ou seja, o plantio dos pomares acontece junto com a abertura de mercado pelo Instituto. Serão cadastrados 100 hectares de área agrícola com a criação de planos de manejo de nativas nas propriedades.

Aconteceu no último dia 9 de novembro a reunião de apresentação do projeto para cerca de 30 produtores rurais e técnicos de Mogi das Cruzes (SP), que entenderam como o Pomares Mata Atlântica, irá funcionar. Os interessados irão receber a visita dos técnicos do Instituto, assinar um termo de parceria e passar a construir um Plano de Manejo Agroecológico, específico para sua terra, além de participar de formações mensais, ter assistência técnica e abertura de mercado para os produtos.

Trata-se de uma metodologia diferenciada no contexto da Mata Atlântica, em que o produtor terá assistência para planejar o plantio e possibilidade de estar próximo a uma rede de compradores, como mercados de varejo, restaurantes e mesmo os Festivais do Cambuci. “Iremos potencializar as portas abertas pelo Cambuci para fortalecer o conhecimento sobre as frutas nativas em geral. Mas não será uma ‘receita de bolo’ para o plantio, pois isso depende da motivação e do desejo do produtor em construir junto”, destacou Claudia Prudente, bióloga e técnica do projeto na ONG.

Os pomares com espécies combinadas com ornamentais, árvores nativas ou medicinais serão áreas produtivas, que atendem à causa de trazer de volta a Mata Atlântica e as metas globais de recuperar 12 milhões de hectares de florestas brasileiras, mas fora das APPs – Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais. E enquanto as frutíferas não produzem, por exemplo, o pomar poderá conter outras espécies de interesse comercial como as plantas medicinais e aromáticas.

Segundo Hamilton Trajano, técnico do projeto no AUÁ, o mercado de mudas nativas também tem forte potencial visando as metas de recuperação, além de espécies como o Caraguatá, a Cabeludinha ou a Grumixama serem praticamente inexistentes em um mercado a ser expandido.

“Os princípios do projeto estão baseados na diversificação dos pomares, pois em um país tropical, quanto mais o produtor cultiva a diversidade utilizando práticas agroecológicas, maiores as chances de manter o solo fértil, de obter produtividade e renda. Há forte potencial de desenvolvimento econômico, porém tudo passa pelo cuidado e dedicação do produtor à terra e a esse projeto”, lembra Hamilton.

É possível somar culturas como a Uvaia, a Espinheira-santa ou o Eucalipto em um mesmo pomar, enquanto plantas arbustivas como a Erva-Baleeira já são bastante visadas pela alta gastronomia. O esforço do Instituto se dá junto aos parceiros e empresas com interesse nas nativas, mas acima disso está a missão de recuperação ambiental por meio da valorização da origem e da identidade desses produtos.

“Muitas vezes plantamos sem saber se iremos vender e esse projeto traz a oportunidade de conseguirmos o planejamento para amarrar as duas coisas”, destacou uma das produtoras de Mogi das Cruzes, participante do encontro.

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