Oficinas Transformadoras: Agricultores do Alto do Tietê Abraçam Tecnologias Ecológicas

Os meses de maio e junho dentro do projeto “Capacitação Ecológica no Alto do Tietê” foram marcados pela realização de três oficinas que fizeram sucesso entre os participantes. Tais participantes são englobados por agricultores da região do Alto do Tietê, os quais estão interessados em aprender e se aprofundar no tema voltado para tecnologias de agricultura sustentáveis. Isso com a finalidade de aplicarem efetivamente em suas produções de alimento, e, assim, suspenderem a utilização de agrotóxicos e preservarem os recursos hídricos da região.

 A primeira delas, “Oficina Planejamento Agroecológico da Propriedade”, ocorreu em Mogi das Cruzes, na sede da secretaria de Agricultura Municipal de Agricultura. Foram apresentados para a discussão temas voltados aos tipos de solo, sua capacidade de uso e técnicas de conservação, juntamente com estudos sobre os recursos naturais da propriedade (como declividade, clima, pluviosidade, face de exposição solar, entre outros), além de captação e armazenamento de água. Os integrantes puderam também se adentrar em aspectos jurídicos, explorando temas como legislação ambiental e as possibilidades para a pequena propriedade. 

Ademais, algo importante que foi debatido foram os elementos de uma propriedade produtiva: a produção de biomassa, recuperação da fertilidade, uso de plantas leguminosas para fixação biológica de nitrogênio, entre outros. Ainda com relação aos sistemas produtivos, os participantes também conversaram sobre a comparação em termos de intensidade de manejo e investimento, movimentação do solo, tempo de retorno e a compreensão da adequação de cada sistema para cada classe de uso do solo. Tudo isso levando em consideração a realidade socioeconômica, capacidade de investimento, mercado, etc., para um pequeno produtor. 

A ação encerrou-se com data marcada para a próxima oficina. Isso porque, ao final, os agricultores chegaram ao consenso de que seria necessário prolongar a conversa no âmbito de sistemas de comercialização pensado para a realidade dos pequenos produtores, visto a importância do mercado como determinador estratégico econômico. 

A segunda oficina, “Oficina Redes de Comercialização de Pequenos Produtores Agroecológicos”, realizada na mesma localização da anterior, contou com a presença de pequenos agricultores agroecológicos do assentamento de Jundiapeba e sítios em Mogi das Cruzes e Biritiba Mirim.

Dessa vez, foi estudada a melhor forma de utilização da produção dos participantes, uma vez que não alcançam o mercado de varejo ou atacado por não trabalharem com um produto principal em escala média. Entretanto, também não é interessante a comercialização individual de cestas agroecológicas, haja vista que a mercadoria excede a demanda, além de ser extremamente complicado manter o contato e a logística com o mercado e os clientes. Dessa forma, a estratégia pensada para isso foi a criação e o fortalecimento de um grupo em que os excedentes das produções fossem reunidos, havendo assim maior fidelização dos clientes e a distribuição do trabalho nas partes do marketing, logística e venda fossem distribuídos. 

Após concordarem que o foco em varejos mais próximos do consumidor final é o que possui maior potencial de valorização da produção agroecológica diversificada, os participantes iniciaram a organização envolta das questões do marketing e da logística, portanto, as atividades a serem realizadas serão direcionadas por meio de um grupo. Também foi apresentado um aplicativo que possibilita a abertura de uma loja online para o grupo e cada agricultor pode apresentar seus produtos semanalmente, assim como os consumidores podem realizar suas compras.  

Analisando meios de continuar e impulsionar o projeto, o grupo conversou sobre a importância do Protocolo de Transição Agroecológica , instrumento de embasamento necessário para nivelar os aspectos das produções, mantendo assim um padrão entre os membros. Ademais, discutiu-se também a relevância de ter um ponto de entrega centralizado tal qual uma cozinha para beneficiamento com selo da vigilância sanitária. 

Com isso, é importante ressaltar os valores e objetivos do grupo, e porque é de enorme prestígio o movimento gerado na oficina. Assim, a produção agroecológica sustentável, incluindo espécies nativas, a criação de um espaço seguro, de confiança e transparência para comercialização, com possibilidade de comercializar produtos sazonais e em pequenos volumes e viabiliza a geração de renda do sítio, são os principais movimentadores para os produtores que engajam tanto em fazer seu negócio e de seus parceiros crescer.

Por fim, porém não menos importante, ocorreu a “Oficina Estudo e Manejo de Sistema Agroflorestal de 3 anos” no Sítio Coruscante, em Salesópolis. Ao longo de 3 anos, a experiência cria e mantém um Sistema Agroflorestal (SAF) Sintrópico por toda a extensão de 5 hectares, que agora possui uma vasta biodiversidade de espécies e ciclos ecológicos. 

A área em questão, bastante declivosa, anteriormente ocupada por pastagem, vem sendo coordenada pelos proprietários com apoio de consultores que visam a recuperação da fertilidade do solo com a utilização de plantas voltadas à produção de biomassa. O plantio foi feito em grande parte com semeadura direta, tendo sido feito inicialmente um corte do terreno em nível, formando pequenos platôs onde foi aplicado adubos e corretivos minerais (em pequena proporção). Nestes platôs os processos erosivos na área praticamente não ocorrem.

Nesta rodada da oficina, os participantes eram membros da Secretaria de Meio Ambiente, diretores da Agronegócio do município e profissionais do setor de restauração florestal do Viveiro Atacadão Florestal, de Lorena. Na atividade, os membros observaram de perto as transformações ocorridas no local, resultado do intenso trabalho e manejo pela equipe contratada com as sementes e mudas introduzidas. O que antes era um solo degradado, foi agora percebido com uma forte recuperação do seu potencial.

Durante a ação, aconteceu a poda dos eucaliptos, que, assim como outras espécies nativas e exóticas, foram introduzidos com o intuito de serem podados intensamente. Isso promove a reciclagem de nutrientes e matéria orgânica e mantém o solo sempre coberto, protegido contra erosão, e com uma alta taxa de enraizamento. Após a derrubada dos galhos, o material tem que ser picado com serras e facões, deixando-o  mais próximo do solo, e arrumado em torno das mudas de produção. Nos SAFs, esse manejo representa o principal custo e demanda de trabalho, o que o torna um desafio técnico em como otimizar essas atividades.

Assim, após analisar os aspectos ambientais, agronômicos, e finalmente o potencial de geração de renda dos sistemas, considerando as culturas do café, do citrus e do Cambuci, em comparação com o eucalipto e o gado, os participantes puderam ter maior clareza e identificação com as infinitas melhorias e vantagens apresentadas pelos SAFs. 

O projeto “Capacitação de Agricultores no Alto Tietê para Boas Práticas de Manejo Agroecológico” é realizado pelo Instituto Auá com recursos do Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos), que tem por objetivo financiar programas e ações para proteção dos recursos hídricos.

 

 

 

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