Dia de campo no sítio Mãe Terra toca alunos para valor do alimento agroecológico
Os alunos do curso de Empreendedorismo Socioambiental do Instituto AUÁ em parceria com o Sesc Sorocaba, encerraram em grande estilo o primeiro ciclo de sua formação integral para a atuação empreendedora. Após mergulharem por um semestre no contato com suas potencialidades individuais para o despertar vocacional, o grupo vivenciou um dia de práticas no sítio Mãe Terra, no assentamento Bela Vista, em Sorocaba, onde se revelou o quanto campo e cidade podem estar juntos em uma realidade mais sistêmica, integrada e sustentável.
Os 3 agricultores familiares do sítio compõem também o CSA de Sorocaba (Community Support Agriculture), em que 36 consumidores da cidade compartilham do empreendimento do campo para além dos produtos que consomem. Eles se tornam coprodutores e investem recursos que possibilitem a vida digna do agricultor em sua totalidade, preocupando-se ainda com o dia a dia da propriedade e suas demandas.
“Executar as tarefas, observar o organismo agrícola e vivenciar o cotidiano da roça, são estímulos fundamentais para a formação do ser humano integral”, coloca Melissa Branca, educadora do curso. Para Maysa Mazzon Camargo, que também compõe a equipe educadora do curso, “o conhecimento sobre a natureza em sala de aula é uma abstração, é preciso sentí-la e permitir aos alunos materializarem seu projeto a partir daí, percebendo o quanto as pessoas modelam os elementos da paisagem”.
Ao longo do dia, os alunos se dividiram em grupos para colheita e triagem do milho e do tomate, colheita de plantas da adubação verde como o feijão-de-porco e o nabo-forrageiro, semeadura das hortaliças em bandejas, dinamização do solo com os preparados previstos na agricultura biodinâmica, e a próprio preparo dos alimentos na cozinha, que fez o elo entre a terra e os ingredientes orgânicos no prato. O sítio possui 7,2 hectares e diversas espécies certificadas, que integram também uma agrofloresta, a qual busca reproduzir na agricultura a dinâmica de uma floresta tropical.
Foi possível observar, por exemplo, o desafio da colheita dos mais de 2 mil pés de tomate, os quais rendem até 175 quilos por coleta após um dia de trabalho. Trata-se de uma variedade desenvolvida especialmente no sítio, assim como a preservação do milho crioulo, que aponta a possibilidade de usar a seleção natural ao invés do monopólio dos pacotes de sementes híbridas e transgênicas.
“Quando as 14 famílias de sem-terra vieram para o lotes em 2000, pouco se falava em agroecologia, tivemos que ajudar a construir esse projeto coletivo, era um solo difícil de trabalhar. Passamos a cultivar a favor da natureza, da biodiversidade, do solo. Agroecologia é questão de observação e acompanhamento dos ciclos da vida. Agora estamos dando mais uma passo, fazendo a ligação com a cidade, com os espaços fora do lote”, contou Maria Rodrigues Santos, agricultora do Mãe Terra, liderança rural e aluna do curso do Instituto AUÁ.
Para Ondalva Serrano, educadora da organização, o segundo semestre do curso será o momento de mergulho no projeto em sociedade de cada um, “e essa vivência prática permitiu começarmos a deixar a natureza nos mostrar o que faz conosco, o quanto temos liberdade de ação mas a responsabilidade pelo impacto que nossa vida produz”.
Conheça mais a visão dos alunos que participaram deste dia de formação:
Cecília Helena Coimbra – “Sou produtora de shitake e cheguei no curso com a ideia de planejar um empreendimento de cozinha, mas o processo de autoconhecimento me fez mudar aos poucos meu planejamento. Quero trabalhar com tecidos reutilizados, sensibilizando mulheres e gerando renda em minha vizinhança.”