Ondalva Serrano leva visão da agricultura familiar para o projeto “Bota na Mesa”
Se os agricultores familiares vêm buscando maior sustentabilidade no campo, ainda com pouca estrutura e orientação para trabalhar processos produtivos mais sustentáveis, de outro lado, os consumidores concentrados nos territórios urbanos demandam cada vez mais alimentos saudáveis e nutritivos. “São dois grupos distintos mas com grande oportunidade de se unirem na construção de relações solidárias e sustentáveis entre campo e cidade. E essencialmente, é preciso se investir na juventude rural para que descubra suas habilidades vocacionais como produtores orgânicos”, destacou a agrônoma e conselheira do Instituto Auá, Ondalva Serrano, no Encontro com Especialistas do projeto Bota na Mesa, do GVces – Centro de Estudos da Sustentabilidade.
Ela foi uma das especialistas convidadas para aproximar a realidade dos pequenos e médios produtores rurais das cadeias de valor que abastecem as cidades, por meio das empresas varejistas, buscando-se chegar a um “mapa do caminho da agricultura familiar para o abastecimento dos grupos urbanos”, no debate que aconteceu no último dia 3 de fevereiro em São Paulo.
Apesar da ênfase na necessidade dos pequenos produtores se aprimorarem para inserção na cadeia de negócios de grandes empresas, o debate contou com importantes críticas do público participante sobre a importância da educação do consumidor para a realidade do produtor, da soberania alimentar, conhecimento da origem dos alimentos e respeito à sazonalidade da natureza. “Deve-se conhecer a realidade de cada produtor, o consumidor adaptar-se a esse cenário, e priorizar o alimento sadio, sem veneno”, destacou o especialista do Instituto de Botânica, Clóvis Oliveira.
Para o co-CEO da rede St. Marché, Victor Leal, o desafio do varejo na relação com os pequenos produtores passa pela necessidade de padronização, competitividade e logística nas lojas. Por outro lado, hoje o processo de produção orgânica respeita justamente a época certa dos alimentos ou a diminuição das distâncias de distribuição para uma agricultura mais sustentável, além da formação de preço com remuneração justa para os trabalhadores do campo.
O projeto do GVces vem atuando com dez organizações da agricultura familiar, envolvendo mais de 500 produtores em sete municípios do Cinturão Verde de São Paulo, visando um maior apoio a sua organização e seu relacionamento com empresas dos grandes centros urbanos. O encontro quis responder ao desafio de se desenvolver uma agricultura que considere às demandas de mercado quanto à quantidade e qualidade do alimento ofertado, associada à manutenção da qualidade de vida no campo. Haverá uma avaliação do debate e futuro posicionamento sobre os próximos passos envolvendo os diferentes grupos.