Serviços Ecossistêmicos do Cinturão Verde de São Paulo estão ameaçados

Por Bely Pires,
diretora da AHPCE

“E o que eu tenho a ver com isso?” diriam muitas pessoas ao ler o título acima. Para começar, é necessário pensarmos “o que é serviço ecossistêmico? E Cinturão Verde? E mais ainda, por que estamos falando da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo. Hein?!” Muitos conceitos são pouco ou nada familiares, mas absolutamente importantes para a sobrevivência dos mais de 24 milhões de habitantes de uma região que abrange a cidade de São Paulo e todo seu entorno.

A Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo (RBCV)  é uma área de 17 mil km2, que abrange parte da cidade de São Paulo e outros 77 municípios do entorno. Não é um parque, nem uma área de proteção ambiental, tampouco uma reserva biológica ou ecológica, protegidas por uma legislação específica. Trata-se de uma região considerada de grande importância socioambiental pelo programa “Homem e Biosfera” (Man and Biosphere), da UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), com a função de contribuir para a conservação da biodiversidade, o desenvolvimento sustentável e a viabilização de projetos demonstrativos voltados à difusão do conhecimento, da educação ambiental e pesquisas científicas.

No planeta, já foram designadas mais de 600 Reservas da Biosfera, e sete delas estão no Brasil: além da RBCV, tem-se a RB da Mata Atlântica (da qual a RBCV é parte integrante),  RB da Caatinga, RB da Amazônia Central, RB do Cerrado, RB do Pantanal e RB da Serra do Espinhaço (ver www.rbma.org.br).

No caso da RBCV, sua enorme importância está ligada à capacidade dessa região em diminuir os impactos negativos da ação humana no meio, como a poluição atmosférica, as ilhas de calor, contaminação de corpos d´água e solos, contenção de enchentes e deslizamentos, além de “produtos” essenciais para o ser humano como água, alimentos, recursos genéticos, madeira e fibras, entre outros.

Todos estes benefícios são obtidos das florestas que compõe a RBCV (veja no mapa a mancha verde que envolve a área urbana, na cor roxa, e o contorno da cidade de São Paulo, em vermelho).

Esses benefícios são os chamados “serviços ecossistêmicos”, responsáveis em boa parte pelo bem-estar humano da população beneficiada. Sem essas florestas (a mancha verde do mapa final), as condições de vida na área urbana seriam bem mais desafiadoras: mais calor, mais enchentes, mais deslizamentos, menos água, alimentos mais caros por vir de distâncias maiores, menos recursos genéticos, menos madeira, menos beleza natural, mais cinza e cimento.

Por isso, a AHPCE e o Instituto Florestal da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo estão organizando uma publicação sobre esse tema. Dez serviços ecossistêmicos da RBCV estão sendo avaliados segundo sua situação atual, tendências, fatores que podem impactá-los de forma negativa (vetores de alteração) e impactos sobre o bem-estar humano.

Seu lançamento está previsto para o primeiro semestre de 2014. Mas a partir dos próximos boletins da AHPCE, vamos apresentar cada um desses serviços ecossistêmicos, atualmente bastante ameaçados por conta de diversas intervenções humanas como construção de estradas, especulação imobiliária, falta de consciência ambiental do poder público, da iniciativa privada e da sociedade em geral. É por isso que “todos temos a ver com isso”: a perda das florestas e de seus serviços ecossistêmicos significa piores condições de vida para todos, pessoas de qualquer classe social, empresas e prefeituras. Entender isso já é um precioso começo!

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