Ana do Mel: a inspiradora trajetória de uma agricultora agroecológica e multiplicadora de conhecimentos
Ana do Mel é filha de agricultores e cresceu em um ambiente rural, onde seus pais produziam alimentos sem utilizar agrotóxicos ou insumos químicos.
Nessa época, décadas atrás, não conhecia o termo “agroecologia” ou “sistemas agroflorestais”, pois era a forma natural da sua família viver. Embora no Vale do Ribeira e em Embu-Guaçu já existisse a agricultura com uso de agroquímicos, sua família não enxergava com bons olhos, devido à sua origem ser à descendência de nativos da região.
Apesar de ter se formado em Educação e vivido em São Paulo durante a juventude, Ana nunca esqueceu suas raízes e sempre apreciou a agricultura familiar. Quando decidiu formar uma família, Ana e seu marido abandonaram a cidade e voltaram para o campo, em uma propriedade da família em Embu-Guaçu, enfrentando diversas dificuldades no início. Conciliar a maternidade com os cuidados da produção e da comercialização foi desafiador, mas Ana não desistiu.
Determinada a tornar o sítio sua fonte de renda, Ana começou a implementar um sistema agroflorestal com abelhas nativas e produzir um mel especial. Ela também processava frutas agroecológicas, criando deliciosos doces. Embora não houvesse demanda ou mercado para alimentos orgânicos e agroecológicos na época, Ana conseguiu apoio de um grupo de agricultores convencionais de Embu-Guaçu, que a ajudou com espaço e infraestrutura para que pudesse vender seus produtos orgânicos em grande feiras. Com apoio do Sebrae e outras instituições, desenvolveu seu lado empreendedor.
A partir daí, Ana se envolveu cada vez mais com o movimento social pela agroecologia e se tornou uma multiplicadora de conhecimentos, com foco prioritário no desenvolvimento de mulheres. Ela participou da construção da Cooperapas, em Parelheiros, na zona rural do extremo sul da cidade de São Paulo, e ajudou a formar o primeiro grupo de mulheres produtoras e artesãs da região. O sítio de Ana recebeu a certificação Demeter Biodinâmica e se tornou uma referência na produção agroecológica, sendo convidada para ministrar cursos e oficinas, como na Universidade de Viçosa e em associações diversas.
Um grupo de jovens empreendedores da Incubadora da USP partiu em uma expedição em busca de inovações sustentáveis e encontraram a propriedade de Ana, com seu Sistema Agroflorestal único e seus deliciosos méis de abelhas sem ferrão. Encantados com a sua visão sustentável e seu trabalho singular, decidiram conhecer mais sobre a Ana e sua produção. Foi então que Ana abriu as portas de sua propriedade para receber os visitantes e contar-lhes sobre sua trajetória e sua paixão pela natureza. Encantados com a Ana e sua produção, apelidaram-na de Ana do Mel, um nome que ela carrega até hoje com orgulho.
Foi em um evento relacionado ao tema da produção agroecológica que Ana conheceu Gabriel, do Instituto Auá, e ouviu falar pela primeira vez no Cambuci, fruto nativo da Mata Atlântica. Apesar de ter poucas mudas nativas em sua propriedade, ela estava ansiosa por aumentar a biodiversidade em seus SAFs e aprender mais sobre as variedades de frutas locais.
Foi assim que ela procurou o Instituto Auá, com o objetivo de profissionalizar sua agroindústria de processamento de frutas e desenvolver o ecoturismo em sua propriedade. Graças ao apoio do projeto ECOFORTE, da Fundação Banco do Brasil – FBB, em 2018, Ana começou a se aprimorar no processamento de frutas nativas.
Em 2022, o projeto Plantio e Restauração Ecológica no Vale do Paraíba e Alto Tietê – SP, do Instituto Auá em parceria com a FBB, proporcionou a Ana cerca de 500 mudas de mais de 20 espécies nativas da Mata Atlântica, insumos orgânicos e assistência técnica para implementar Sistemas Agroflorestais em uma área anteriormente degradada de sua propriedade. Além disso, ela também recebeu mudas de figo, pêssego e frutas cítricas para complementar o seu sistema agroflorestal.
Hoje, Ana do Mel está terminando de construir sua agroindústria, participa da feira de orgânicos do Parque do Ibirapuera, uma das maiores de São Paulo, está presente em feiras dos SESCs e entrega cestas dos seus produtos para consumidor final. Nas feiras, os visitantes têm a oportunidade de saborear sucos de frutas nativas ou tapiocas com PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais) e levar para casa seus famosos méis de abelhas nativas, além de bebidas como o hidromel, ou doces como geleias variadas.
A trajetória de Ana é inspiradora, um exemplo de perseverança e comprometimento com a natureza e a produção sustentável.
Acompanhe as atividades do sítio da Ana – Floradas da Serra – no instagram: https://www.instagram.com/floradas_daserra/