Água: como esse serviço ecossistêmico beneficia o ser humano

Por Bely Pires
diretora-adjunta da AHPCE

Nem todos sabem que o corpo humano é composto por até 75% de água, mas que ela é fundamental para nossa sobrevivência é unanimidade, já que sustenta várias atividades, como preparação de alimentos, industrialização de produtos, agricultura, pecuária, construção civil, transporte, lazer, esporte entre tantas outras. Animais também dependem da água para sobreviver e plantas para a fotossíntese, que resulta em oxigênio que respiramos.

No boletim anterior, mencionamos a importância da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo – RBCV, que abriga toda a Região Metropolitana, para a disponibilidade de serviços ecossistêmicos, ou seja, os benefícios que o ser humano obtém da natureza. Chegou a hora de enfocarmos então o serviço ecossistêmico de provisão e regulação de água na RBCV, algo tão importante e que necessita de mais responsabilidade na forma com que a sociedade vem tratando este recurso.

Parece surpreendente, mas a água que temos no planeta é a mesma de 4,6 bilhões de anos, renovada pelo ciclo hidrológico de evaporação e precipitação, no qual as florestas têm importante participação.

A água disponível na RBCV vem principalmente da Bacia do Ato Tietê, que abrange 34 municípios e 99,5% da população metropolitana, ou aproximadamente 19,4 mil habitantes! A demanda por água é imensa, pois além das pessoas há indústrias, agropecuária, comércio, construção… gerando 20% do PIB brasileiro na região.

Isso explica porque a situação da disponibilidade de água nesta bacia está em estado crítico, pois se produz menos do que é necessário para as atividades humanas. Como agravante, a qualidade dessa água está comprometida pela grande quantidade de esgoto doméstico, efluentes de indústrias e agricultura, lançados diretamente nos cursos d´água. Devido à pouca qualidade, os custos de tratamento também são maiores, os quais são pagos pela própria população.

O lançamento absurdo de efluentes contribui com a baixa qualidade, mas é importante lembrar que as florestas são grandes aliadas na “limpeza” dessa água: elas funcionam como grandes filtros nas margens dos corpos d´água. São as chamadas matas ciliares, que filtram resíduos como fazem os cílios com nossos olhos. Estamos falando do serviço ecossistêmico de regulação de água. Infelizmente, na RBCV as matas ciliares estão em situação delicadíssima, e só na cidade de São Paulo é praticamente impossível observar matas às margens de um córrego ou rio, geralmente ocupado por moradias ou empreendimentos.

Outra forma de verificar o serviço de regulação é por meio do processo hidrológico de uma floresta: com a chuva, parte da água que fica nas folhas das árvores evapora, outra vai para o solo que, sendo permeável, possibilita a infiltração e reabsorção pelas raízes. A água é também lançada na atmosfera pela transpiração das plantas ou segue para camadas mais profundas do solo, formando lençóis freáticos, aquíferos e regulando o fluxo de rios.

Fica claro que quanto mais se retiram florestas da RBCV, existirá menos água para alimentar os corpos d´água subterrâneos, rios e reservatórios, além de menos qualidade nas águas, ocasionando doenças por contaminação e tratamentos mais caros. O triste cenário de início de ano provém desse impacto: fortes chuvas, escorregamentos e enchentes ocasionados pela superfície indevidamente ocupada ou impermeabilizada nas áreas urbanizadas.

Que tal mantermos em mente a importância das florestas para o acesso a esse bem tão precioso que é a água, sempre que a utilizarmos?

A futura publicação “Serviços Ecossistêmicos e Bem-estar Humano na RBCV”, a ser lançado este ano, trará informações mais detalhadas e ricamente exemplificadas com dados numéricos e mapeamentos sobre esse serviço, com um capítulo específico de  autoria de vários cientistas e coordenado pelos especialistas Denise Bicudo e Carlos Bicudo.

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