A possível união entre arquitetos e clientes no propósito de construir habitações saudáveis
Grande parte das pessoas costuma ver a arquitetura como uma área que desenvolve projetos para quem desconhece o tema e repassa aos arquitetos a missão de construir suas casas. Na verdade, arquitetura nada mais é do que a criação de projetos junto com os clientes, reconhecendo que a solução final é o encontro do olhar profissional com o sonho de moradia dos indivíduos. Na AHPCE, o grupo Arquitetura da Terra repensa as formas de habitar, o uso dos recursos naturais e as tradicionais maneiras de ocupação do espaço. Aqui o arquiteto Gugu Costa, integrante do grupo, conta mais sobre esse trabalho, lembrando que construir é um ato humano e que arquitetura não é só coisa de arquiteto.
P: Como a arquitetura pode influir na ocupação do espaço e na qualidade de vida das pessoas?
Gugu: A natureza do ser humano depende da vida em abrigo, pois o ambiente externo é agressivo e é necessária proteção por motivos biológicos. Até dois terços da humanidade vive hoje em espaços construídos. Precisamos nos abrigar para manter em harmonia características ligadas ao gasto de energia, à quantidade de luz ou à umidade. Assim, todos vivem a arquitetura, em espaços que intervimos e transformamos. Mas esquecemos que a separação absoluta da natureza não é possível, pois necessitamos de luz natural, fluxo de ar, proporções espaciais adequadas e uma visão para a paisagem que nos cerca, estamos interligados ao meio ambiente. Nas grandes cidades, as construções acabam surgindo aleatoriamente, projetos se sobrepõem, mas se pensarmos no planejamento urbano, há relação das quadras e das ruas, por exemplo, com a orientação dos ventos e da luz do sol. Cidades podem ser agradáveis, algumas cidades medievais eram harmoniosas e adaptadas ao terreno, e não havia urbanistas para planejá-las.
P: Como o sonho do cliente pode ser incorporado ao projeto para que se chegue a um resultado comum?
Gugu: As pessoas trazerem “a casa” desejada dentro delas, com base na arquitetura que vivenciaram, nos lugares visitados e mesmo nas sensações corporais que tiveram. Trabalhamos seu momento atual e seu futuro de vida ao projetar residências e até espaços comerciais e de instituições. O sonho do cliente fornece as características desta arquitetura, traduzindo-se na forma, na escala, no tamanho e na dinâmica do espaço. Um terreno grande pode conter uma casa de dois andares se o sonho do morador era ter o panorama da paisagem e um fluxo de ar maior. Assim, colhemos informações a partir de interações presenciais, questionários e sistematizações, num método conhecido como Sete Mandalas. O ponto de partida é sempre uma “comunidade criativa”, um grupo que possui junto a intenção de criar o projeto e construir.
P: Na sua opinião, as pessoas podem multiplicar essa forma de pensar, como replicar a noção das moradias saudáveis e sustentáveis?
Gugu: Estudos mostram que até 15% da população é composta por pessoas inovadoras e abertas a novidades. Acredito que estes influenciam outros seguidores e grupos mais conservadores. É difícil vender um ideal de inovação, por isso o cliente precisa aderir ao processo, até porque estará elaborando o projeto do lugar onde viverá por muitos anos. Essa casa vai influir no bem-estar e na qualidade de vida da pessoa, serão necessárias escolhas e até um certo aprendizado sobre arquitetura para chegarmos a esse nível de troca.
P: Qual a importância de construir com terra?
Gugu: Além de grande símbolo do planeta, a terra é um material de infinitas possibilidades e aplicações. Em minha experiência, desenvolvi técnicas e estilos a partir das qualidades do próprio material, que oferece grande riqueza de opções para a arquitetura.