A Jornada de Kauã: Transformando um Sítio Familiar em um Modelo de Sustentabilidade na Mata Atlântica

Kauã de Barros Pinto Viviani Santos sempre teve um olhar atento para o impacto social e ambiental das ações humanas. Formado em Relações Internacionais, ele decidiu mudar radicalmente de vida há cinco anos, deixando São Paulo em busca de um sonho: viver mais próximo da natureza e contribuir para um mundo mais sustentável. Sua nova jornada o levou ao sítio de sua família, o Sítio do França, localizado na deslumbrante região de Natividade da Serra, na Serra do Mar Paulista.

O Sítio do França, que leva o nome do bisavô de Kauã, é um verdadeiro tesouro da Mata Atlântica, com 24 hectares, dos quais 60% são cobertos por vegetação nativa. Nesse espaço, Kauã se dedica à agroecologia e busca integrar os conhecimentos tradicionais com técnicas modernas e científicas. A escolha por essa prática não foi apenas uma decisão profissional, mas um reflexo de seu desejo de construir um negócio que tivesse impacto social e ambiental positivo na comunidade local, onde a maioria das pessoas vive em pequenos sítios de subsistência.

Kauã acreditava que, se conseguisse desenvolver um modelo de negócio sustentável e viável, poderia replicá-lo em outras propriedades da região, promovendo maior prosperidade e qualidade de vida para as famílias locais. Com essa visão, ele começou a cultivar uma diversidade de culturas no sítio, adaptando-se aos desafios impostos pelo terreno acidentado e o clima da serra, que pode ser extremamente frio e úmido durante o inverno.

A produção do Sítio do França inclui uma variedade de hortaliças, como alface, rúcula e almeirão, além de tubérculos como mandioca e batata-doce, e legumes como cenoura e beterraba. A propriedade também se destaca pela produção de frutas, como limão cravo e limão tahiti, além de espécies nativas da Mata Atlântica, como o cambuci. Cada cultivo é cuidadosamente planejado dentro dos sistemas agroflorestais, onde diferentes culturas são plantadas em linhas alternadas, garantindo a sucessão das espécies e a manutenção da cobertura vegetal.

Um dos principais diferenciais do Sítio do França é o uso exclusivo de adubos e insumos orgânicos, que preservam a qualidade do solo e da água. Tudo o que é orgânico e local tem prioridade, como o uso de caetê – uma planta da Mata Atlântica – para embalar as hortaliças, resultando em um embrulho bonito, resistente e sustentável.

A água, um dos recursos mais preciosos da região, também recebe atenção especial. O sítio possui seis nascentes que abastecem, além do próprio sítio, bairros vizinhos. Para garantir a preservação da água e evitar desperdícios, Kauã implementou sistemas de gotejamento e serapilheira, que ajudam a manter a umidade do solo, reduzindo a evaporação.

Para Kauã, preservar a Mata Atlântica é mais do que uma responsabilidade ambiental; é a essência de sua missão. Ele vê o bioma como um fornecedor vital de água, alimento, regulação do clima e, acima de tudo, essencial para a qualidade de vida humana.

Atualmente, a produção do Sítio do França é comercializada em restaurantes e mercados de Ilhabela, no litoral norte do estado, além de abastecer a merenda escolar em Natividade da Serra. Parte da produção de cambuci também é destinada ao Instituto Auá, uma parceria que reflete o compromisso de Kauã com a preservação e valorização das frutas nativas da Mata Atlântica. No entanto, um dos desafios que ele enfrenta é a falta de compreensão do mercado em relação à sazonalidade dos alimentos, que muitas vezes não respeita os ciclos naturais de produção.

Kauã é um membro ativo do APL Agroecológico da Mata Atlântica de São Paulo, uma organização que ele acredita ser fundamental para estruturar e fortalecer os produtores da região. Ele já participou de projetos importantes, como o “Semeando Economia Verde na Mata Atlântica”, promovido pelo Instituto Auá, que contribuiu para a ampliação de seu pomar de frutas nativas.

O futuro do Sítio do França, segundo Kauã, passa pela manutenção dos sistemas agroflorestais em equilíbrio com a floresta nativa, garantindo a preservação do bioma. Ele vê o APL como uma peça-chave para a comercialização e escoamento da produção de frutas nativas, o que, consequentemente, contribui para a preservação da Mata Atlântica, gerando renda e desenvolvimento econômico para a região.

A história de Kauã é um exemplo inspirador de como a determinação, a visão de longo prazo e o amor pela natureza podem transformar um pequeno sítio em um modelo de sustentabilidade e impacto positivo, não só para o meio ambiente, mas também para a comunidade ao seu redor.

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