A qualidade do ar e a importância das árvores
Artigo de Bely Pires – diretora do Instituto Auá de Empreendedorismo Socioambiental
Quer saber como se sente um peixe fora d´água? Basta encher os pulmões num dia seco de inverno, no centro de São Paulo.
“Salve o verde,
Salve o verde
Tá faltando grama, neste jardim;
Tá faltando árvore, nessa cidade;
Tá faltando oxigênio, nessa atmosfera;
O que será, o que será, o que será,
o que será da biosfera?”
Trecho da música “Salve o Verde”, de Jorge Benjor
Na década de 70, o cantor e compositor Jorge Benjor, interpretado pelo grupo Quarteto em Cy, já antecipava o drama ambiental de nossos grandes centros urbanos. Quarenta anos depois, no dia 9 de agosto, comemoramos o dia da qualidade do ar! Talvez o verbo “comemorar” não seja o mais adequado… Para quem vive em grandes metrópoles, como São Paulo, basta abrir a janela pela manhã e ver o horizonte tomado por uma faixa marrom, fazendo perceber que a qualidade do ar que respiramos definitivamente não anda boa. Vários fatores contribuem para isso, como a grande frota de veículos e a falta de chuvas, em especial no inverno deste ano. Outro fator agravante é a falta de florestas em centros urbanos.
Segundo o professor Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a poluição atmosférica pode causar diversos problemas à saúde. Eles vão da inflamação pulmonar e sistêmica, alterações do calibre das vias aéreas, do tônus vascular e do controle do ritmo cardíaco, até alterações reprodutivas, morbidade e mortalidade por doenças cárdio-respiratórias e aumento da incidência de neoplasias.
E segundo Saldiva, as florestas urbanas são grandes aliadas nesse contexto, pois disponibilizam um importante serviço ecossistêmico: a regulação da qualidade do ar, conforme atesta a tese de doutorado de Ana Paula Garcia Martins (http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5144/tde-25022010-150352/pt-br.php). Segundo a pesquisadora, a parte externa de florestas urbanas atua como se fosse um grande filtro de ar, pois a casca das árvores retém parte dos poluentes, como mostram as figuras abaixo, obtidas a partir da coleta e análise de cascas de árvores de alguns parques paulistanos:
A maior concentração de enxofre na Avenida Paulista, próxima à rua Peixoto Gomide, corresponde ao local onde está localizado o ponto de ônibus, indicando a grande emissão do poluente por esses veículos, e a proteção disponibilizada pelo parque.
Os pontos de maior concentração de cobalto correspondem a locais próximos a lombadas eletrônicas, o que indica que a frenagem de veículos pode levar à maior emissão do poluentes na atmosfera, retido pelas árvores.
Outros poluentes e parques urbanos foram analisados na mesma tese, reforçando a importância dos ecossistemas e seus serviços para o bem-estar humano, ainda que esses ecossistemas sejam “ilhas” de florestas no meio urbano.
Então, para a prática de atividades físicas, é bom dar preferência às partes mais internas dos parques! E apoiar a criação de muitos outros, claro.
Mais informações sobre este tema serão disponibilizadas no capítulo sobre Serviços Ecossistêmicos de Regulação da Qualidade do Ar, coordenado pelo professor Paulo Saldiva, da publicação “Serviços Ecossistêmicos e Bem-estar Humano na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo”, a ser lançada ao final deste ano. O sumário executivo desta publicação já está disponível no site do Instituto Auá (www.ahpce.org.br) .