Transformando o potencial do fruto no pé em valor de mercado

Mais de cem espécies desaparecem por dia em nosso planeta, segundo dados da União para o Biocomércio Ético (UEBT), empobrecendo a natureza e nos fazendo perder grandes oportunidades de desenvolvimento social, econômico e ambiental. Proteger a biodiversidade é uma agenda comum de governos, empresas e comunidades, e isso inclui a necessidade de abrir mercados que reconheçam o valor do capital natural, ou seja, dos negócios que impliquem na conservação ambiental.

Como um braço da Organização das Nações Unidas, a UEBT existe desde 2007 para promover o abastecimento com respeito em relação aos produtos da biodiversidade, especialmente nas empresas de cosméticos, fármacos e alimentos. Em 11 de agosto, o órgão realizou em São Paulo a 5a Conferência – Biodiversidade e Negócios, e a equipe do Instituto Auá de Empreendedorismo Socioambiental esteve presente com o objetivo de fomentar novas parcerias para a abertura de mercados relacionados aos frutos nativos da Mata Atlântica.

“O Cambuci faz parte da história de muitas comunidades, mas é pouco conhecido pela sociedade. Precisamos saber quais são suas características químicas e suas possibilidades de industrialização”, reforçou Fernando Alonso, diretor da Native

Produtos Orgânicos, do setor de alimentos. Representantes da indústria cosmética também demonstraram interesse pelo fruto, cujo Arranjo Produtivo na Mata Atlântica é coordenado pelo Instituto Auá, “com a possibilidade de ter o produtor como um fornecedor constante”, segundo Simone Steves da L ́Oreal.

Para o diretor da Native, a indústria de alimentos sempre foi reativa a produtos que não tivessem potencial de mercado imediato, “mas isso mudou, e hoje elegemos as matérias-primas com base em pilares como a origem orgânica, o sabor e a funcionalidade do alimento”, revelou.

O evento trouxe estudos de caso que revelam o interesse das empresas na biodiversidade brasileira, a exemplo do investimento da Centroflora na Philocarpina (extraída do jaborandi) para a indústria farmacêutica, da instalação do novo parque industrial da Natura na Amazônia para o trabalho direto com as comunidades extrativistas, ou da linha de óleos da biodiversidade brasileira criados pela L ́Oreal.

Um mapeamento inédito realizado na América Latina pela UEBT, com a escuta de 300 empresários do setor de cosméticos e alimentos, mostrou como estes percebem o valor da biodiversidade em seus negócios. De acordo com a pesquisa, 70% dos empresários afirmaram que a biodiversidade é importante para seus negócios, com destaque para os bolivianos e brasileiros com 85% e 80%, respectivamente. E mais  de 94% dos entrevistados no Brasil, Colômbia e Peru disseram que o interesse por  ingredientes naturais deve aumentar nos próximos 10 anos.

O estudo também apurou oportunidades e desafios para os empresários dos quatro países. Para o setor de alimentos, o documento reforça a tendência por produtos saudáveis, com apelos diferenciados para o consumidor, que tende a ser cada vez mais crítico em relação às empresas. Os selos ambientais, sociais, orgânicos, de comércio  justo são cada vez mais reconhecidos e considerados pelo consumidor desses países na hora da compra.

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