Oficina de mobilização de recursos: organizações devem ser financiadas pela própria sociedade onde atuam

O conhecimento especializado sobre captação e mobilização de recursos em organizações do terceiro setor, do gestor e captador Rodrigo Alvarez, qualificou o debate da última oficina do projeto Linha de Costura, fornecendo ferramentas para as organizações do direito da infância e adolescência em Osasco se profissionalizarem. Deixar uma forma de atuar isolada no próprio trabalho, enfocar os públicos atendidos pelas ações e fazer com que o financiamento dessas organizações aconteça pela própria sociedade são esforços importantes nesse caminho.

Assim, expor com clareza aos doadores o “porquê” das ações realizadas, assim como os resultados que se esperam delas, torna-se mais eficiente do que mostrar somente “o quê” se faz. Segundo Rodrigo, o que conecta as outras pessoas com uma organização e as faz se mobilizarem para contribuir é justamente o propósito e a causa pela qual existem e lutam.

Ele revelou também que os recursos podem ser comparados à água, que muda de estado dependendo do contexto: recursos surgem para fortalecer potenciais que já existem, estão sempre em circulação, e não aparecem se o trabalho estiver estancado e pouco explícito.

“Por isso, a forma como estamos comunicando nossas ações, dando visibilidade para o mundo lá fora, dependerá de nossa capacidade de fazer o outro entender o que fazemos. Isso requer a decodificação pelo público e por quem financia as ações, a partir de uma língua universal que possa ser entendida fora das organizações”, enfatizou.

Contexto dentro e fora do Brasil

Os participantes da oficina souberam que o modelo de financiamento do terceiro setor no Brasil ainda é fortemente baseado nos recursos do governo e que as organizações da sociedade civil tornaram-se um braço do setor público em muitos casos. Isso também implica em perda de autonomia e liberdade para um trabalho típico de organizações privadas com uma causa pública.

É preciso buscar cada vez mais doações da sociedade civil e fazê-la se sentir parte da atuação da OSC, vendo-se representada nesse esforço. “Uma democracia forte possui os três pilares fortalecidos, governo, empresas e terceiro setor. No Brasil, este último ainda é tímido e incipiente, quando não ‘criminalizado’ pela opinião pública, e costuma trabalhar sobre pressão, apagando incêndio, sem um plano de captação e financiamento claro”, disse o consultor.

No mundo, o país com maior cultura de doação é os Estados Unidos e na América Latina o Chile, onde até 56% da população doa algum recurso. No Brasil, o número chega a 20%, atrás de Paraguai e Colômbia, por exemplo. Segundo pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), somente 0,27% do PIB é de doação de empresas para o terceiro setor.

A apresentação trouxe ainda valiosas orientações de como diversificar as fontes de recursos (em empresas, indivíduos, fundações, órgãos multilaterais etc), e planejar a captação com base na causa da organização, suas necessidades, estratégias e levantamento de fontes.

Finalmente, uma organização sustentável possui missão e visão claras, programas que atendem as necessidades da sociedade, equipe comprometida e liderança forte, fontes diversificadas de recursos, gestão organizada e economia de parte desses recursos para períodos de escassez.

Como conclusão do dia, tornou-se claro que a criação de um plano de captação é garantia para profissionalizar o financiamento da instituição: com metas factíveis, um mote para a campanha de captação que mostre o contexto do problema, a proposta de solução e os valores para esse atendimento.