Mutirão em São Paulo: erguendo uma construção sustentável com espírito de comunhão

As cores e as formas desenhadas na porta de entrada da casa inspiraram trocas de ideias, impressões e sentimentos sobre a futura moradia da obra da Vila Romana, em São Paulo. Lá, um grupo composto pelos futuros moradores, arquitetos da terra e voluntários realizaram um mutirão com diferentes técnicas sustentáveis, a exemplo da chamada taipa de pilão, herdada das culturas árabes e berbéres. Essa técnica compõem-se de paredes feitas de barro amassado, constituindo uma mistura a ser comprimida entre taipas de madeira desmontáveis, removidas logo após a secagem. Nasce então uma parede seca, formada por um material incombustível e isotérmico natural e barato. “Gostaria das camadas feitas com naturalidade, sem muito contraste ou traços de ondas e cores diversas”, expressou o proprietário da casa, Gustavo Nobrega.

Ele refletiu a essência de um mutirão de construção, que aconteceu em 25 de janeiro, no canteiro de obras da casa, com a participação de mais de 20 pessoas: a atitude de doação e cooperação do grupo para criar algo coletivo e verdadeiro. Este é um dos preceitos da Arquitetura da Terra, uma iniciativa de Empreendimento Social, da AHPCE (Associação Holística de Participação Comunitária Ecológica), que valorizora e fortalece relações humanas. Conta com uma equipe multidisciplinar composta por profissionais de arquitetura, engenharia ambiental, biologia, design, administração, gerenciamento de projetos, educadores e comunicadores.

A Arquitetura da Terra compreende que as moradias são espaços vivos, oportunidades para uma nova forma de se relacionar e de educar para a sustentabilidade. O propósito é criar construções saudáveis e sustentáveis, associadas ao bem-estar e à tecnologias inovadoras.

Hoje as edificações nas cidades respondem por até 30% do uso dos recursos naturais, segundo o Ministério do Meio Ambiente, e reduzir seu impacto inclui reconsiderar as técnicas e materiais de construção. “Além disso, é preciso criar espaços educadores e de co-criação, somando a visão de todos os envolvidos no processo da obra”, esclarece Gugu Costa, arquiteto do grupo.

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Assim, todos se reuniram para efetuar a construção das paredes com diferentes técnicas de bioconstrução: taipa de pilão, paredes de pau-a-pique utilzando garrafas para trazer luz ao ambiente, e tijolos de terra-palha. Vale lembrar que, diferente de outras obras que só consomem recursos externos, a terra veio do próprio quintal em que a residência está sendo construída.

Além de contribuir com a obra, voluntários participaram do mutirão para aprender sobre os diferentes usos de materiais. O jovem engenheiro Hélio Athayde, por exemplo, estava curioso sobre as forma de aplicação da madeira  e misturas que dão resistência à terra. No canteiro de obras, o grupo utilizou a Técnica Calfitice (de origem colombiana, com Cal, Tierra, Fibra y Cemento), a qual será utilizada para revestimento das paredes  do quarto no pavimento superior da casa.

A fibra de coco veio direto do Parque do Ibirapuera, e as garrafas para decoração foram recolhidas por Gustavo em diferentes ocasiões.  “Queremos reaproveitar ao máximo os materiais, muitos foram colhidos em caçambas nas ruas, como portas e janelas, costumo brincar que fazemos caça caçambas”, diz Júlia Ferraz, proprietária da futura residência.

A sustentabilidade está presente em todos os espaços deste projeto modelo, a exemplo do telhado com cobertura verde, do sistema de captação de água da chuva, iluminação natural, tratamento local de efluentes, ou da  utilização de dormentes  de antigos trilhos de trem.

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