Hortas urbanas promovem colheita social e criam sistemas vivos em Osasco

Conquistar a segurança alimentar e tornar as cidades mais sustentáveis são efeitos da agricultura urbana, mas a produção de alimentos frescos e acessíveis promove ainda uma importante colheita social: moradores desenvolvem seu potencial humano, resgatam a confiança e descobrem oportunidades de crescimento. O Programa de Agricultura Urbana da SDTI em Osasco teve a parceria do Instituto AUÁ e em 2016 formou os moradores para a agroecologia, tornando possível melhorar a produção nas hortas urbanas, dentro de um contexto de alta densidade populacional com poucos espaços disponíveis para o cultivo. 

Nas 7 hortas em atividade em Osasco – Cantinho Verde, Viva Verde (CAPs), Estufa Escola, Horta Modelo, Mutinga I e II e Vicentina – a melhoria dos espaços foi visível, expandindo e diversificando a produção, introduzindo novas plantas medicinais, usando o mínimo de revolvimento do solo e, principalmente, conseguindo o controle de pragas que antes ameaçavam as hortas – a exemplo das lagartas que desapareceram no Cantinho Verde com a aplicação de um composto natural.

São pessoas com perfil de agricultores urbanos, verdadeiros produtores dentro da cidade, então pudemos aprofundar a implantação de técnicas agroecológicas, mostrar que planejando aumentamos a qualidade e a ‘escala’ da produção, atendendo um público maior”, conta Hamilton Trajano, técnico do projeto pelo Instituto Auá.

Segundo ele, a produção só aumenta a partir da troca de saberes, conhecendo-se primeiro o território e as pessoas, para só então testar, mudar e observar os resultados na prática. A agroecologia coloca a importância da criação de sistemas vivos, com base nos cultivos consorciados, povoamento do solo com micro-organismos, controle natural de doenças, entre outros princípios, que incluem a relação com as pessoas.

“Idealizei a horta em um espaço abandonado pensando na finalidade terapêutica para os comunitários. O cuidado com a terra muda o cuidado consigo próprio… aprendemos que fazer hortas não é só pôr a semente e molhar a muda, é preciso fazer com gosto e todo o dia. Temos beterraba, couve, ervilha, berinjela, alface… conversamos com as plantas e, mesmo lendo livros, só descobrimos o que dá certo testando”, diz Vanessa, enfermeira e responsável pela horta do CAPS.

IMG_5716

Feiras, compra de vizinhos e geração de renda

“Venho todos os dias para a horta, meus filhos brincam que saí da roça, no Norte, para voltar a mexer com a terra em Osasco. As bandejas chegam cheias de mudas e já planto todas no mesmo dia. Criamos um grupo, o Andorinha, que compra junto as mudas e compartilha o mesmo cuidado com a área, e com isso a renda também melhorou”, conta Iracy, produtora da horta Cantinho Verde.

A capacitação incluiu alunos que já atuavam nas hortas da cidade e a equipe técnica da SDTI, visando aprofundar o planejamento da produção e a comercialização no município. A vendas acontecem na feira organizada pela Secretaria e também diretamente nas hortas, onde os moradores do entorno vão buscar hortaliças e plantas medicinais sem agrotóxicos. 

“É preciso trabalhar muito a terra e ter dedicação diária, se deixá-la parada será mais difícil cultivar depois. Gosto de vir à horta todos os dias, mexer com mato, bicho… moro aqui ao lado e vendo a maior parte da produção no bairro, minha vida melhorou e sinto que hoje tenho uma atividade garantida”, relata Careca, que também é produtor da horta Cantinho Verde.

O aprendizado envolveu técnicas inéditas como o sistema de compostagem sem terra, com armação de bambu, que permite a pilha de composto oxigenar, as receitas de biofertilizante e suco verde que aumentaram a nutrição das plantas, assim como o uso de plantas companheiras num mesmo canteiro.

Gosto do consórcio de plantas, pois uma dá força à outra, mas elas precisam ser ‘casadas’, como a rúcula com a couve… vendo de tudo e busco cultivar o que o público pede. Muitos querem plantas medicinais, hoje vendi babosa, bálsamo e guaco. Também recebo encomendas, entrego em creches e atendo as pessoas direto na horta”, expressa Maria Marques, produtora da horta Cantinho Verde, relatando que gera renda importante para a família a partir alimentos que produz.

O saber compartilhado, construído junto entre técnicos e agricultores urbanos, torna-se a melhor forma de materializar a sustentabilidade local e criar sistemas naturais saudáveis e solidários. “Os comunitários trazem histórias de vida que são incorporadas aos cultivos. Na horta do CAPs, por exemplo, descobrimos que eles se preocupavam em ‘dar uma segunda chance’ para mudas não tão boas, revelando um importante senso de cuidado com a natureza”, conta Tibério Oliveira, técnico do projeto pelo Instituto Auá.

Aprendemos que o capim mantém a água no solo, sem ele a terra vai ficando compactada, e nunca devemos regar a horta com o sol alto, pois o calor causa choque térmico nas plantas. Gosto de testar cada dica… a ervilha torta, por exemplo, precisa de um barbante para se agarrar pois não aguenta seu próprio peso, vou ajudando uma a uma, as plantas são como meus bebês”, diz Robênio, um dos comunitários e produtores da horta do CAPs.

Agricultura Urbana - manual

Clique na imagem e faça Download do “Manual para Hortas Urbanas – Como produzir e comercializar alimentos saudáveis na cidades”

2 Comentários

  1. Vera Lof

    É assim que se faz um mundo mais justo e saudável para todos. Gostei da ideia e estou compartilhando. Poran Jhavê! Bons Tempos!
    Espalhem essa semente ela sua cidade. Eu apoio.

Comente