Encontro aponta nativas da Mata Atlântica com maior potencial de mercado
A união entre os produtores de espécies nativas da Mata Atlântica mostra-se cada dia mais fortalecida e o encontro geral do projeto Pomares Mata Atlântica, com financiamento do Fehidro, no último dia 24 de setembro, deu origem à primeira listagem de espécies nativas que serão usadas no Alto Tietê e Vale do Paraíba. O “Workshop Plantas Nativas da Mata Atlântica para um Novo Ecomercado”, promovido pelo Instituto AUÁ reuniu cerca de 80 participantes entre produtores, atores locais, técnicos do setor público e empreendedores para seleção destas espécies e arranjos dos futuros pomares agroflorestais.
São eles que permitirão resgatar a biodiversidade no entorno dos maiores remanescentes de Mata Atlântica do país e, com isso, recuperar a floresta por meio de espécies com valor comercial. “Consolidamos o planejamento para implantação dos pomares com nativas a partir da visão do mercado e da vocação das propriedades, concretizando cada vez mais o ideal de uma paisagem diversificada, com renda para os produtores e proteção do meio ambiente”, reforça Hamilton Trajano, técnico agroecológico do Pomares Mata Atlântica.
Espécies como Cambuci, Uvaia, Pitanga, Guaco, Espinheira Santa, Aroeira ou Guatambu, Louro Pardo foram escolhidas de forma participativa em grupos de discussão de plantas frutíferas, aromáticas, medicinais e madeireiras. Segundo Gabriel Menezes, presidente do Instituto AUÁ, este momento representou a oportunidade de construção de um verdadeiro projeto coletivo, criando-se um mercado cujo valor agregado está nos pomares, que recuperam a mata, resgatam a história e as tradições culturais.
O manejo de florestas plantadas fora de Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal não possui restrição para colheita, a não ser o cadastramento das espécies madeireiras, lembrou Helena Carrascoza, da Secretaria Estadual de Meio Ambiente. “E não existe produtor mais apto a iniciar uma agrofloresta com nativas do que os produtores com experiência nestas espécies. O projeto do Instituto AUÁ traz uma expectativa muito positiva para difundir esta atividade, com retorno para o produtor e o meio ambiente”, disse Helena, responsável pelo programa de Florestas Multifuncionais da SMA, cuja meta é reflorestar 300 mil hectares no Estado.
Fitoterápicos, óleos essenciais e madeiras brasileiras
Pouca gente sabe que o Brasil possui mais de 2 mil plantas medicinais já usadas tradicionalmente pela população, com enorme potencial de geração de riqueza. A informação foi trazida pelo proprietário da Oficina de Ervas, Engº Agrº Ademar Menezes Junior, uma das únicas empresas brasileiras de fitoterápicos com distribuição em todo território nacional.
“Apesar dos inúmeros gargalos, como o excesso de exigências da Anvisa, a comercialização ilegal e a falta de fiscalização, a fitoterapia é uma forma de promover independência e possui enorme potencial inexplorado, o Brasil poderia ser o maior banco de germoplasma do mundo. Extratos e princípios ativos de plantas como Candeia, Chapéu-de-couro, Cúrcuma, são exemplos do que a indústria de fármacos, cosméticos, bebidas e alimentos já começa a investir”, destacou Ademar.
Já no mercado de madeiras nativas da Mata Atlântica, o proprietário da Fazenda Coruputuba, no Vale do Paraíba, Patrick Assumpção, e o responsável pela Futuro Florestal, Rodrigo Ciriello, revelaram que as agroflorestas com múltiplos usos trazem prósperas oportunidades para a terra e o produtor: diminuem custos com a energia, permitem colher alimentos, recuperar o solo e vender produtos de valor agregado.
“O sistema com Guanandi, leguminosas e frutíferas, já rendeu muitos frutos e em 12 anos já iremos tirar madeira, além de subprodutos como castanhas e sementes. Não existe receita de bolo, o universo de serviços ambientais oferecidos pelas plantas é enorme, mas é preciso conhecer seu solo e entender seu entorno para facilitar a inserção no mercado”, afirmou.
A pesquisadora Sandra Maria Pereira, da APTA do Vale do Paraíba, revelou aos presentes o quanto as empresas buscam por produtos de qualidade e pagam por esta produção no campo das plantas aromáticas. Melissa, Macela, Capim-limão, Fáfia, Arruda, Guaco… são alguns exemplos de ervas cujo óleo essencial e o hidrolato (resíduo do processo de destilação cada vez mais valorizado), possuem alto valor agregado no mercado.
“O comércio local de óleos essenciais tem sido uma das principais oportunidades para o pequeno produtor, busca-se cada vez mais produtos artesanais direto do produtor”, disse Sandra. Segundo ela, um plantio de capim-limão em 25 metros quadrados de terreno, rende até 18 quilos de folhas que se transformam em 83 mililitros de óleo, equivalente a cerca de 240 reais no mercado.
Segundo Claudia Prudente, bióloga do Instituto Auá, este projeto está construindo de forma interativa à comunidade, uma metodologia replicável, que pode resultar em transformação social para a região. Isso porque os pomares de Mata Atlântica poderão gerar renda e alimentos através de agricultura sustentável, o que está intimamente alinhado à Agenda 2030, em busca do equilíbrio entre prosperidade humana e proteção do planeta.