Do solo à regeneração: como as visitas técnicas fortalecem a agroecologia na Mata Atlântica
Do solo à regeneração: como as visitas técnicas fortalecem a agroecologia na Mata Atlântica
O mês de março de 2025 marcou o início das visitas técnicas conduzidas por Juliano Hojah, técnico de campo do Instituto Auá. Ele percorreu quatro propriedades rurais localizadas em Natividade da Serra, São Miguel Arcanjo e Piedade — regiões estratégicas para a conservação da Mata Atlântica. Essas visitas fazem parte do projeto “Da Floresta ao Consumidor”, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, que promove a capacitação técnica de agricultores da rede CPL (Cadeia Produtiva Local) das Frutas Nativas da Mata Atlântica.
O propósito desta etapa é fundamental: realizar um diagnóstico detalhado das condições das propriedades, entendendo como está sendo feito o manejo dos pomares, a diversidade de espécies nativas, a saúde do solo, a origem e o uso da água no processamento dos frutos, além dos cuidados com a pós-colheita.
A importância do diagnóstico inicial
Esse olhar técnico é uma das bases mais importantes do projeto. É a partir dele que se torna possível criar estratégias sob medida, de acordo com as necessidades de cada agricultor. Também é por meio desse diagnóstico que se avalia se as boas práticas estão sendo aplicadas corretamente — um passo essencial para garantir qualidade e sustentabilidade na produção.
As primeiras visitas já revelaram pontos importantes para orientar os próximos passos.
Na Fazenda Campo Alto, do produtor Christian Kleist, foi feito o levantamento da quantidade de árvores de cambuci e suas idades — entre 10 e 30 anos. Apesar da boa estrutura para o beneficiamento dos frutos, identificou-se que os pomares seguem, em grande parte, o modelo de monocultura, com pouca diversidade de outras espécies nativas. Diante disso, já está sendo elaborado um plano de diversificação agroecológica, fundamental para manter o equilíbrio do bioma e garantir alimento também para a fauna local.
No Sítio do França, do agricultor Kauã, o uso de telas sob as árvores se mostrou uma solução prática e eficiente para coletar os frutos maduros sem danificá-los, evitando perdas e aumentando a quantidade de cambucis aproveitados na colheita.
Já no Sítio Vale do Peixe, dos irmãos Victor e Pedro Secolli, a visita apontou uma baixa produtividade em parte do pomar. Com o acompanhamento técnico, será realizada uma análise do solo para identificar possíveis carências nutricionais e, a partir disso, desenvolver um plano de manejo que ajude a recuperar a vitalidade das plantas e garantir colheitas futuras.
Do campo ao consumidor
O diagnóstico também avaliou as práticas de pós-colheita, que envolvem etapas como a lavagem com água sanitária, enxágue e congelamento. O padrão de higienização é essencial para assegurar a qualidade dos frutos que chegam ao consumidor final.
Juliano também observou os procedimentos relacionados ao manuseio, ao armazenamento e ao transporte. Cada uma dessas etapas funciona como uma engrenagem e precisa estar bem ajustada para que toda a cadeia produtiva opere de forma eficiente, segura e justa.
Investindo no futuro
O que mais inspira nesse processo é perceber que muitos produtores não estão apenas colhendo frutos: estão plantando com o olhar no futuro.
No Sítio do Alto da Serra, por exemplo, a adoção de sistemas agroflorestais e a construção de uma agroindústria familiar demonstram como é possível integrar biodiversidade e geração de renda em uma mesma lógica produtiva.
Da raiz ao fruto: cuidar para colher melhor
A próxima etapa das visitas incluirá a coleta e análise do solo e da água, o que permitirá indicar ajustes personalizados para cada propriedade, promovendo mais eficiência e sustentabilidade no manejo.
Entre os aspectos observados estarão:
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A saúde do solo e a necessidade de correções nutricionais;
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A origem e a qualidade da água, especialmente no processo de higienização dos frutos.
Esse é o papel da capacitação técnica promovida pelo Instituto Auá, por meio da Cadeia Produtiva Local de frutas nativas da Mata Atlântica: conectar o saber científico ao conhecimento tradicional dos agricultores, respeitando o ritmo da terra e promovendo a regeneração de um bioma que já sofreu intensamente com a degradação ambiental.
Cada orientação técnica representa menos perdas, mais qualidade, mais segurança e mais preparo para os desafios do mercado, das mudanças climáticas e da logística.
É assim que o Instituto Auá cultiva, junto com os produtores, não apenas frutas nativas, mas também resiliência, biodiversidade e futuro.
Quer saber mais sobre a CPL? Acesse o link: https://apl-mataatlantica.brizy.site/