Cinturão Verde de São Paulo forma mais 35 lideranças para ampliar Programa de Jovens
Parece surpreendente que a Região Metropolitana de São Paulo, com 24 milhões de habitantes, ainda mantenha um Cinturão Verde com mais de 600 mil hectares de ecossistemas que fornecem serviços como água limpa, equilíbrio climático ou paisagens para o ecoturismo. Por isso, o esforço de gestão desse imenso patrimônio depende do envolvimento de toda a sociedade, na busca por harmonizar seu desenvolvimento com a conservação dos recursos naturais.
Nesse sentido, o Programa de Jovens – Meio Ambiente e Integração Social (PJ-MAIS), existente há 17 anos para promover a formação integral da juventude como uma peça estratégica para o desenvolvimento local. “O Programa é a melhor contribuição para a preservação de áreas críticas com a participação dos indivíduos, pois além da transformação pessoal, cria oportunidades de inclusão no ecomercado, produzindo mudanças na família, na economia local e no ambiente”, destaca Rodrigo Victor, Diretor de Assistência Técnica da Fundação Florestal para a Baixada Santista, Litoral Norte, Vale do Paraíba e Mantiqueira.
Mais de 2,5 mil jovens já passaram pelo PJ-MAIS, com gestão pela AHPCE e Instituto Florestal de São Paulo, mas agora o programa passa por um importante momento de reciclagem visando iniciar a implantação de novos Núcleos Educadores, ao mesmo tempo em que fortalece os Núcleos já ativos – em Cajamar, Cubatão, Paranapiacaba, Paraibuna e Parelheiros (SP).
Assim, nos últimos dias 21, 22, 28 e 29 de novembro, o Programa formou 35 novas lideranças para impulsionar Núcleos locais, além de atualizar os gestores já existentes. A “Formação de Formadores do PJ-MAIS” aconteceu na sede da Reserva da Biosfera, no Horto Florestal, em São Paulo, com palestras, rodas de conversa e oficinas com esse público, que será o responsável pela mobilização e articulação visando gerir esses espaços educadores locais.
Segundo os gestores do PJ-MAIS na AHPCE, Giovanni Gigliozzi Bianco e Arianne Brianezi, o momento atual traz perspectivas para ampliação e atuação em rede, e com a experiência acumulada é possível multiplicar os impactos globais do Programa, os quais transcendem o jovem e afetam a realidade dos municípios como um todo.
A formação atraiu interessados de 20 cidades e regiões do Cinturão Verde Araçoiaba da Serra, Bragança Paulista, Cajamar, Campo Limpo Paulista, Cotia, Guararema, Guarulhos, Jacareí, Mairiporã, Mauá, Paraibuna, Paranapiacaba, Salesópolis, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, São Vicente, São Roque, Suzano e São Paulo.
Empregabilidade e visão sistêmica
Alvo de um intenso processo de exclusão e desigualdade social, o jovem morador das zonas periféricas da região metropolitana pode se tornar um agente mobilizador em seu município conforme desperte para seu potencial integral. Apesar de estarem no momento mais delicado de sua formação como profissional, esses jovens de 14 a 21 anos passam a identificar dons e qualidades que os preparam para serem empreendedores e prestadores de serviço, em áreas como turismo, recuperação ambiental ou produção de tecnologias socioambientais.
Segundo Giovanni G. Bianco, apesar do desafio do PJ-MAIS ser a inclusão ecoprofissional desses jovens, é notável seu desenvolvimento humano, na relação consigo, com a sociedade e a natureza. Constata-se que o nível de empregabilidade desses jovens aumenta após o curso, pois conforme adquirem maior responsabilidade e poder de escolha passam a se destacar como profissionais.
A diversidade de cenários nos municípios que possuem ou pretendem implantar Núcleos do PJ-MAIS é grande. Em Guarulhos, por exemplo, intenciona-se criar um Núcleo numa região com jovens já mobilizados pelo Movimento Cabuçu e com forte atuação da sociedade civil local,. Já em Cajamar, o desafio é conquistar uma sede própria para o Programa com apoio da Prefeitura, pois desde 2010 o PJ-MAIS é lei no município, com obrigatoriedade de abertura de 30 vagas por ano. “O que nos estimula é ver o caso de jovens que tiveram histórias de vida transformadas, formaram-se monitores, educadores e ingressaram em faculdades de acordo com seu perfil”, destaca Paula Mielke, da Diretoria de Meio Ambiente e Urbanismo de Cajamar.
A metodologia do Programa, construída em quase duas décadas, retoma a chamada pedagogia da alternância – que enfoca as vivências do aluno na natureza – e está dividida em quatro módulos ao logo de dois anos: no primeiro, voltado à ecoformação, convive-se com o meio natural e social; o segundo trata da autoformação do aluno, enfocando seu autoconhecimento e capacidade de fazer escolhas; o terceiro, a realidade do meio e o preparo para a monitoria de novas turmas; somente no quarto módulo, os jovens definem seu plano de trabalho e passam a formar outros jovens.
Além disso, os conteúdos estão amparados na visão sistêmica e transdisciplinar da realidade. “Isso significa a integração entre os diferentes campos do conhecimento, os quais transcendem as disciplinas tradicionais, relacionando-se aos saberes em transformação e às inteligências múltiplas do ser humano”, esclareceu Ondalva Serrano, agrônoma, fundadora da AHPCE e principal responsável pela construção da proposta medotológica do Programa com apoio da Unesco.
Ecomercado e histórias reais
Foram muitas as preciosas orientações transmitidas ao longo dos quatro dias da “Formação de Formadores”, e entre estas dicas, destaca-se a importância de institucionalizar o Programa nas cidades de origem, tornando-o permanente por meio do maior número possível de parcerias locais. É também valiosa a conquista do espaço físico do PJ-MAIS, onde os jovens sintam-se pertencentes ao Programa, assim como responsáveis por sua manutenção. Formar equipes multidisciplinares, construir a iniciativa com diferentes grupos, além de planejar as atividades tendo em vista a realidade do ecomercado, são informações a ter em mente na implantação.
Segundo Rodrigo Victor, abrir espaço no ecomercado depende da negociação contínua com o poder público, que responde por oportunidades ligadas a licenciamento, incentivos fiscais ou criação de Unidades de Conservação, com a iniciativa privada, pela venda de produtos e serviços, e com a sociedade civil, em ações ambientais e também junto a produtos e serviços.
Os participantes da formação aprenderam mais sobre o ecomercado por meio de um jogo de compra e venda e reforçaram a ideia do bem-estar humano e da conservação da natureza como valores centrais nas relações econômicas. Para fomentar os ecoempregos locais, é necessária a criação de um diagnóstico que identifique potenciais de uma cidade para esta nova economia justa e sustentável.
Na história de implementação dos Núcleos, os jovens já assumiram funções diferenciadas, como a de vendas de mudas para a neutralização de carbono, a criação de horta comunitárias, iniciativas de arborização urbana, e a formação de diferentes associações de monitores ambientais. Em Parelheiros, a carência de oportunidades de trabalho locais deu origem ao curso de Tecnologias Socioambientais (TSA) do PJ-MAIS, em que jovens aprendem a construir tecnologias sustentáveis, como minhocário, composteira, aquecedores solares de baixo custo e sistemas de captação de água da chuva, podendo atuar diretamente como prestadores de serviço em suas comunidades.
Os próximos passos da formação de formadores envolverão a construção colaborativa de um diagnóstico da realidade local e do projeto de implantação de Núcleos em cada município, até fevereiro de 2014, seguido do plano de trabalho para implantação dos Núcleos Locais e Planejamento da Rede do PJ-MAIS.