Angela de Cara Limpa consolida gestão de resíduos na zona sul de São Paulo

Até 20 toneladas de materiais recicláveis são coletados e separados mensalmente pelos membros do Núcleo Ângela de Cara Limpa, no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo. E seu papel é ainda mais essencial quando se calcula que os 700 mil moradores da região chegam a produzir até 1 mil toneladas por dia de resíduos. Frente à nova Política Nacional de Resíduos Sólidos, que impõe a coleta seletiva de todos os materiais recicláveis, a organização social desse grupo surge como estratégica no apoio a meta da Prefeitura, de ampliar a coleta seletiva dos atuais 1,8% para 10% do volume total recolhido na cidade.

O Programa de Educação e Defesa Ambiental Ângela de Cara Limpa é uma iniciativa da Sociedade Santos Mártires e da Associação Holística de Participação Comunitária Ecológica (AHPCE), com uma série de projetos que permitem a gestão dos resíduos, a geração de renda e a inclusão social, associados à recuperação ambiental da região.

“Trata-se de um amplo programa de mobilização comunitária, que vai além da questão do resíduo, possibilitando o desenvolvimento humano e o cuidado com o meio ambiente. Hoje, o programa é uma referência para a zona sul e lutamos para que uma das centrais de triagem da Prefeitura seja implantada na região para potencializar o movimento já existente entre os grupos locais”, defende Sulália Souza, coordenadora do programa.

A força de um dos projetos desse empreendimento, o Papel de Mulher, também vem mostrando que é possível agregar valor aos resíduos transformando papel em arte, com peças de design em cores, formas e texturas inovadoras. Além de utilizar o papel, que compõe quase 90% dos resíduos da coleta pelo programa, as mulheres desse grupo deram novo impulso a iniciativa passando a oferecer oficinas de reciclagem artesanal de papel e a multiplicar o conhecimento adquirido em quase uma década de trabalho.

Segundo Sulália, as oficinas fortalecem a estruturação do grupo, e têm atingido desde grupos locais que pretendem reutilizar o material gerado, até organizações de outras regiões. As participantes desenvolveram um Blog e um sistema de venda virtual dos cadernos, agendas e peças artesanais do projeto (www.papeldemulher.com.br).

Como mais uma peça dentro do ideal da recuperação ambiental com a valorização da região, o Ângela de Cara Limpa conta ainda com o projeto Mudação, um empreendimento de agroecologia urbana, com geração de renda por meio do cultivo e comercialização de alimentos, além de reflorestamento e produção de adubo orgânico. Isto significa mais um elo do sistema de gestão dos resíduos, se pensarmos que até 70% dos resíduos sólidos locais são orgânicos e podem ser destinados a compostagem – que produz o adubo para a produção de alimentos.

Assim, o projeto já envolveu a limpeza de um terreno de 5 mil m2 no Jardim Ângela, antes dominado pelo depósito de de entulhos, e a implantação de 30 canteiros de mudas de hortaliças. “A ideia é vender a produção para tornar o processo autossustentável, e em meados desse semestre a primeira colheita já irá ‘para a rua’, estimulando ainda o consumo de alimentos orgânicos, sem o uso de agrotóxico”, diz Ananias de Oliveira Barbosa, técnico responsável pelo projeto Mudação.

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