Agroecologia, Agricultura Familiar e Agricultura Convencional: Qual é a Diferença e Onde Está o Caminho da Regeneração?
Falar sobre regeneração ambiental, segurança alimentar e futuro sustentável é, obrigatoriamente, falar sobre agroecologia, sobre o papel da agricultura familiar e sobre os impactos do modelo convencional de produção. Esse é o dia a dia de quem atua no campo e trabalha diretamente com quem alimenta o país, como faz Pedro Kawamura, biólogo, mestre em Agroecologia e Desenvolvimento Rural, coordenador do Programa Pomares Mata Atlântica, do Instituto Auá.
Com mais de 15 anos de experiência, Pedro dedica sua trajetória à restauração ecológica e à implementação de sistemas produtivos que colocam a floresta, a biodiversidade e a vida no centro das soluções. E a pergunta foi: afinal, o que diferencia agroecologia, agricultura familiar e agricultura convencional?
Agricultura Familiar:
Quando falamos em agricultura familiar, falamos de quem produz a maior parte do que chega às nossas mesas: frutas, legumes, verduras, ovos e boa parte do leite. Dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2017) mostram que mais de 70% dos alimentos que abastecem o mercado interno vêm da agricultura familiar, que também representa 67% dos empregos no campo, segundo o Anuário Estatístico da Agricultura Familiar 2023.
Por definição legal, é considerada agricultura familiar aquela conduzida por produtores que possuem até quatro módulos fiscais (área que varia conforme a região), utilizam mão de obra predominantemente da própria família e têm na atividade agrícola sua principal fonte de renda.
Mas — e aqui vai um ponto essencial trazido por Pedro — nem toda agricultura familiar é agroecológica. Isso significa que muitos agricultores familiares ainda reproduzem com práticas convencionais que degradam o solo, usam agrotóxicos e seguem modelos produtivos de alta dependência externa.
“Agricultura familiar não é, automaticamente, sinônimo de agroecologia. E esse é um desafio real. A transição precisa ser estimulada, apoiada e construída.” — Pedro
Agricultura Convencional: Um Modelo que Aproxima da Crise
A agricultura convencional se consolidou no século 20 baseada na lógica da Revolução Verde: alto uso de insumos químicos (adubos solúveis, agrotóxicos), mecanização pesada, monoculturas e degradação da biodiversidade. Esse modelo foi eficiente em aumentar a produtividade no curto prazo, mas à custa de um rastro de degradação ambiental.
Pedro é direto ao explicar:
“O que a gente vê é um modelo que se alimenta da degradação. Quando você perde vida no solo, precisa colocar mais adubo químico. Quando seu sistema perde equilíbrio, precisa de mais veneno. E isso gera uma dependência crescente que empobrece o produtor e o meio ambiente.”
Esse ciclo de dependência construiu uma agricultura altamente lucrativa para a indústria, mas com custos altíssimos — para a saúde do produtor, para o meio ambiente e para a economia — impactos que, no fim, são pagos por toda a sociedade.
Agroecologia: Muito Além de um Sistema de Produção, um Projeto de Sociedade
Agroecologia não é só técnica, é uma ciência, uma prática e um movimento social. É a busca pela construção de sistemas agrícola produtivo que imitam os processos da natureza, geram autonomia, regeneram o solo, promovem a biodiversidade e garantem soberania alimentar para quem produz e para quem consome.
“Agroecologia é uma oportunidade de repensar a relação com a terra. É uma resposta real, concreta e necessária à crise ambiental e social que estamos vivendo.” — Pedro
Nos sistemas agroecológicos, especialmente os sistemas agroflorestais, as árvores deixam de ser vistas como ‘obstáculos’ e passam a ser aliadas. Elas melhoram o solo, regulam o microclima, protegem o plantio contra, ventos, retêm umidade, aumentam a biodiversidade e ainda geram renda com frutas, madeiras e outros produtos.
Mais do que reflorestar, a agroecologia gera impactos concretos no dia a dia de quem vive da terra. Ao substituir insumos químicos por práticas agroecológicas, o agricultor reduz custos, melhora sua saúde, não fica exposto a agrotóxicos e ainda colhe uma diversidade maior de alimentos, tanto para sua própria mesa quanto para comercialização. Isso traz mais segurança alimentar, renda diversificada e qualidade de vida para as famílias rurais.
Além disso, os sistemas agroflorestais atraem de volta a vida para o território. Onde antes havia solo degradado e pouca biodiversidade, voltam a aparecer aves, insetos polinizadores, pequenos mamíferos e toda uma teia de vida que ajuda a manter o equilíbrio ecológico da propriedade.
E o impacto não fica só no campo: para quem consome, os alimentos vindos desse sistema são mais nutritivos, livres de agrotóxicos e carregam uma história de regeneração — da terra e das pessoas.
“Mas é necessário ter um bom planejamento para utilizar as ferramentas que a agroecologia nos fornece de forma mais adequada para cada situação, pois precisamos favorecer um bom rendimento do trabalho do agricultor, buscando sempre considerar a viabilidade técnica e econômica”, diz Pedro.
O Papel do Instituto Auá e do Programa Pomares Mata Atlântica
É exatamente nessa lógica que atua o Programa Pomares Mata Atlântica, do Instituto Auá. Através de assistência técnica rural, projetos de fomento e acompanhamento direto nas propriedades, o programa ajuda agricultores familiares a implementar sistemas agroflorestais produtivos, restaurar áreas degradadas e transitar para modelos de produção baseados na agroecologia.
O programa tem impacto direto na regeneração da Mata Atlântica e na construção de uma economia que alia conservação e geração de renda. As ações vão desde o plantio de mudas nativas, recuperação de solos, desenho de propriedades agroecológicas, até a inclusão dos produtores na cadeia de comercialização dos produtos da sociobiodiversidade, como acontece no Armazém Biomas, em São Paulo.
O Pomares é, portanto, muito mais do que um projeto de assistência técnica. É uma estratégia concreta de transformação socioambiental, que une agroecologia, restauração florestal, valorização dos saberes tradicionais e fortalecimento da agricultura familiar.
Conclusão: Por Que Falar Sobre Isso?
Porque o debate sobre agroecologia, agricultura familiar e convencional não é só sobre o campo. É sobre o futuro das cidades, da biodiversidade, do clima e das próximas gerações.
Regenerar é urgente. E é possível.
O trabalho do Instituto Auá e do Programa Pomares Mata Atlântica mostra que existe, sim, um caminho onde é possível produzir, gerar renda, conservar e regenerar — tudo ao mesmo
Produzir e conservar não são opostos. São aliados. Isso é agroecologia. Isso é futuro.
Se esse tema faz sentido para você, te convidamos a conhecer mais sobre o trabalho do Instituto Auá e do projeto Pomares Mata Atlântica e participar da conversa.