Osasco forma dezenas de agricultores urbanos, por um novo jeito de viver nas cidades
O cenário é de grande densidade populacional, poucos espaços a serem ocupados e situações de carência econômica a serem superadas, mas para o coordenador do Programa de Agricultura Urbana em Osasco, Celso Pedro, as pequenas áreas onde existem hortas urbanas começam a ganhar vida e a promover uma transformação que atinge todos os bairros da cidade. A reflexão fez parte do Seminário de encerramento da capacitação em agricultura urbana, realizada pelo Instituto Auá em parceria com a SDTI – Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão de Osasco, que formou cerca de 50 agricultores ao longo de seis meses de trabalho.
“Os agricultores urbanos são os agentes da transformação, realizando a mudança na ponta do processo, onde o alimento passa a vir de perto e encontremos um novo jeito de viver nas cidades. Quando compramos um alimento de grandes corporações, sustentamos um modelo de concentração de renda. Já agricultura urbana, permite a conexão com a origem do produto, esperamos que cada bairro ou quarteirão possa ter sua horta, para a produção do alimento bom, limpo e justo”, destacou Gabriel Menezes, presidente do Instituto Auá.
Os desdobramentos da formação de base agroecológica foram inúmeros, compreendendo um aumento na quantidade de alimento produzido por metro quadrado, novas hortas na cidade (hoje em sete áreas), aproveitamento do espaço com consórcios de espécies, consultorias para fornecimento de mudas e aumento da fertilidade do solo com práticas naturais como o uso de folha de bananeira, além do inédito controle de pragas com compostos de bactérias.
“Tudo partiu da troca com os moradores, que trazem saberes de vida importantes, e se tornaram mais observadores da natureza. A agroecologia dá certo em todo lugar, descobrimos juntos, por exemplo, que não existe regra para a compostagem, aqui aproveitamos o resto da poda das árvores do Linhão da Eletropaulo, que rendeu um excelente húmus a partir da decomposição local”, descreveu Hamilton Trajano, técnico agroecológico do Instituto Auá.
Segundo Tibério Oliveira, também técnico do Instituto Auá no projeto, a policultura é o melhor caminho para produzir num espaço pequeno e com tempo curto, e quanto mais diversidade melhor. “Foram infinitos aprendizados, como o inédito ‘Suco Verde’ para as plantas, feito a partir do capim, das aromáticas e das ervas espontâneas, que se revelou um potente adubo, sem a necessidade de gastos econômicos. Mais do que as técnicas, a alegria foi marcante nas oficinas, pois para fazer mudas e plantar é preciso muito cuidado e carinho ”, enfatizou.
Aprender a planejar, cultivar e vender e, principalmente, descobrir seu potencial vocacional para o crescimento como empreendedor foram ganhos a serem levados na bagagem independente do término do projeto. “Foi um alívio receber esses saberes, praticar e testar, descobri que o biofertilizante rende muito mais que o chorume do minhocário na horta, e hoje coloco em todos os canteiros”, disse o produtor André na cerimônia de encerramento. Já o produtor Jurandir destacou que sua “laje” de 30 metros quadrados virou uma horta produtiva após o curso, onde semeia a alface ou o agrião, que não compra mais em mercados. “Uso todos os pequenos espaços, caixotes e até canos de PVC”, brincou.
A gestora Cida Lopes, da SDTI de Osasco, lembrou que os empreendimentos de economia solidária possuem o diferencial do planejamento, da produção e da comercialização em conjunto, em que se aprende um modo diferente de ser ao mesmo tempo em que se cuida da saúde e do meio ambiente.
Confira o Manual para Hortas Urbanas – Como produzir e comercializar alimentos saudáveis na cidades