Christian Kleist e a revitalização da Mata Atlântica através do cambuci

A Fazenda Campo Alto, em Piedade, guarda um tesouro esquecido: um pomar de cambuci que cresce a cada dia, revitalizando a propriedade e inspirando uma comunidade. A história desse renascimento começa com Christian, um engenheiro mecânico que, apesar da profissão, sempre carregou consigo a paixão pela vida no campo, herdada de seu pai, um fazendeiro desde a década de 60.

Os primeiros pés de cambuci foram plantados nos anos 80, e a tradição familiar era utilizar os frutos para produzir cachaça. No entanto, Christian, curioso e inquieto, foi além e pesquisou outras possibilidades para essa fruta tão especial. A ideia era valorizar o cambuci em sua totalidade, explorando seu sabor único e seus benefícios nutricionais.

Com o falecimento do pai, Christian e seus irmãos assumiram a responsabilidade de cuidar da fazenda. Nos finais de semana, dedicavam-se aos cuidados com a propriedade, conciliando suas atividades profissionais com a paixão pela terra. Foi assim que o pomar de cambuci começou a crescer, passando de 100 para mais de 600 pés.

A visão de Christian era clara: transformar a fazenda em um refúgio para a biodiversidade. Gradualmente, as áreas antes ocupadas por eucaliptos e pinus estão sendo substituídas por um exuberante pomar de frutas nativas, como o cambuci, a juçara, o araçá, a grumixama e a uvaia. Essa mudança não apenas enriquece a fauna e a flora local, mas também contribui para a recuperação das nascentes e a conservação do solo. Conforme ganha renda com a venda das madeiras ainda presentes, Christian investe no plantio das espécies nativas e também em uma agroindústria, onde pretende profissionalizar ainda mais o beneficiamento dos frutos.

A produção de cambuci da Fazenda Campo Alto, após um contato feito por Christian com o Instituto Auá, há mais de 10 anos, despertou o interesse da instituição. Nasceu então uma parceria fundamental para fortalecer a comercialização dos frutos e conectar Christian a outros produtores da região. Atualmente, a produção anual de cambuci é de cerca de 4 toneladas, sendo vendida exclusivamente ao Instituto Auá, que fornece os frutos para a produção de diversos produtos. Hoje, ele integra o conselho gestor do APL (Arranjo Produtivo Local Agroecológico da Mata Atlântica), contribuindo para o fortalecimento da cadeia produtiva do cambuci na região.

A produção do pomar de cambuci é um exemplo de agricultura sustentável. Como espécie nativa da região, o cambuci é altamente adaptado às condições locais e exige poucos cuidados. As práticas de manejo são ecológicas, priorizando a roçada e a cobertura vegetal para manter a umidade e a nutrição do solo. Christian busca mimetizar a natureza em seus plantios, escolhendo os locais mais adequados para cada espécie. Um exemplo disso são os pés de jabuticaba, plantados em áreas pantanosas próximas ao rio, onde encontram a água necessária para seu desenvolvimento. Essa abordagem permite que a natureza siga seu curso, resultando em um sistema agrícola mais equilibrado e sustentável.

Christian sonha em ver mais agricultores da região plantando cambuci e outras frutas nativas, reconhecendo o potencial econômico e ambiental dessa atividade. Ele acredita que a produção de frutas nativas pode impulsionar o turismo rural, gerar renda para as famílias e contribuir para a preservação da biodiversidade local. Para isso, defende o fortalecimento do APL, incentivando cada vez mais produtores a se unirem e trabalharem em conjunto. Sua influência já se fez sentir no município de Piedade, onde contribuiu para a realização do primeiro festival do cambuci, demonstrando o potencial da fruta para promover o desenvolvimento local.

Christian é um exemplo inspirador para aqueles que buscam uma vida mais conectada com a natureza. Sua história demonstra que é possível conciliar a produção de alimentos saudáveis com a preservação ambiental. Ao transformar sua propriedade em um santuário da biodiversidade, ele está contribuindo para a recuperação da Mata Atlântica e para a valorização de um alimento tão rico em história e cultura. 

 

 

 

 

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