Processo educativo que transforma: agricultores convencionais se deparam com o poder da agroecologia
No decorrer dos últimos meses, diversos encontros com pequenos produtores foram organizados pelo projeto Capacitação Agroecológica no Alto do Tietê para educá-los a respeito dos Insumos Biológicos. Esta técnica agroecológica consiste no uso de seres vivos para realizar funções dentro de uma lavoura, sendo essas funções o controle de pragas e doenças e a nutrição das plantas. Desse modo, efeitos que atualmente são obtidos por meio de Insumos Químicos, os quais são venenosos, podem facilmente serem substituídos pelos Biológicos, que operam de forma harmônica com a natureza e as plantações.
Além das vantagens ambientais proporcionadas pelas interações de seres vivos com outros seres vivos ao invés de venenos, também há vantagens econômicas, haja vista que os microrganismos são multiplicáveis. Para isso, os técnicos especialistas, por meio de oficinas, educam os agricultores em relação ao aproveitamento volumoso dos Insumos, pois com a técnica de multiplicação é possível transformar 1L do produto em 100. Isso permite a realização do “manejo de inundação”, no qual altas doses do produto podem ser utilizadas uma vez que seu custo foi reduzido. Dessa maneira, o efeito produzido é igual ou melhor do que com o uso de produtos químicos.
Com a doação do tanque de multiplicação obtido pela CATI para o assentamento de Jundiapeba, bairro de Mogi das Cruzes, e a realização do projeto por meio do Instituto Auá, que possibilitou a compra dos “ingredientes” necessários como o meio de cultura (alimento dos microrganismos), as oficinas estão sendo um sucesso. Nelas, são identificados quais são as principais pragas que os agricultores têm para então selecionar os produtos que irão combater devidamente o problema. Durante todo esse processo, os produtores são ensinados sobre a importância da substituição dos Insumos Químicos pelos Biológicos e como a multiplicação das bactérias e fungos torna esse processo extremamente viável.
Ainda que possuam um caráter mais convencional, os agricultores têm cada vez mais o desejo de parar ou reduzir o uso de venenos em suas produções, entretanto não sabem como, e por isso são ensinados nas oficinas a fazer esse trabalho de substituição. Assim, uma série de outras práticas agroecológicas precisam ser adotadas para que a utilização dos Insumos Biológicos seja plena e bem sucedida, como a diminuição de venenos aplicados, algo que os produtores já perceberam e já passaram a introduzir em suas plantações. Portanto, pode-se dizer que há um princípio de transição de velhos hábitos não saudáveis nesses sítios, para hábitos agroecológicos.
Levando em consideração o público consumidor desses alimentos (vendas institucionais como merenda escolar pelo PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar ou o PPA – Programa de Aquisição de Alimentos ) a utilização de Insumos Químicos cria uma relação direta com a saúde dessa população. A alimentação é extremamente impactada pela toxicidade derivada dos Químicos, pois todo o veneno depositado no plantio chega até o prato das pessoas, contaminando assim seus organismos. Além disso, os corpos hídricos próximos a região são gravemente afetados, tendo seu curso poluído. Isso torna impossível a coleta e utilização dessa água, pois está contaminada com resíduos tóxicos. Por isso, cada gota de veneno reduzida nas plantações é uma gota reduzida na comida das pessoas e nas águas que cercam suas vidas.
Por fim, os agricultores se deparam progressivamente com os benefícios agregados pelos Insumos Biológicos, como eles combatem as pragas sem agredir o ambiente, sem contar o baixo custo quando se sabe multiplicá-los e como garantem maior saúde para o consumidor. Como os venenos anulam a ação das bactérias, eles vêm a cada dia deixando de ser uma opção interessante. Somado ao interesse dos produtores em favorecer a performance dos Biológicos, vê-se um crescimento de implementação de técnicas agroecológicas que impulsionam tal performance e apresentam uma possibilidade de transição de práticas convencionais para agroecológicas.