Viver em áreas urbanas mal planejadas: falta água na torneira e sobra nas ruas inundadas.

Por Bely Pires –
diretora do Instituto Auá

A época das chuvas finalmente chegou. Que bom. Vamos esperar que chova principalmente nas áreas de mananciais, que abastecem grandes centros urbanos como São Paulo, para que a calamidade da falta de chuva e da má gestão da água seja menos trágica. Mas, se chover bastante nos centros urbanos, certamente teremos o mesmo problema que assombra a vida de muitos paulistanos no verão: deslizamentos e enchentes.

A região metropolitana de São Paulo tem características muito singulares (veja emhttp://megacidades.ccst.inpe.br/sao_paulo/VRMSP/capitulo7.php), que poderiam trazer de volta a beleza que já teve um dia: cortada por rios e cheia de morros. Esse panorama seria possível se os ecossistemas dessas áreas estivessem conservados.

As florestas, por terem solo permeável, possibilitam que a água das chuvas escoe rapidamente após um temporal, além de diminuir a velocidade com que esta água chega ao solo, retida pelas árvores. Aliás, as margens dos rios também inundam espontaneamente com o temporal, pois isso faz parte dos processos naturais.

O que não é natural é permitir que se retire a vegetação destas áreas para a instalação de moradias e equipamentos urbanos, que serão o futuro alvo das inundações. Assim, a construção de piscinões é mera tentativa de substituir o que a natureza faz gratuitamente por obras extremamente caras.

Os morros, quando cobertos por vegetação, estão protegidos de deslizamentos, pois as raízes “seguram” a terra, impedindo que ela seja arrastada pelas águas (a não ser que seja um temporal fortíssimo!). Sem vegetação não há proteção, e novamente sofre quem está indevidamente instalado nessas localidades.

A proteção contra inundações e deslizamentos é chamada de serviço ecossistêmico de regulação de processos geohidrológicos disponibilizados pelas florestas, importantes para a segurança e saúde do ser humano.

Então, quando em uma área urbanizada se perdem ecossistemas em margens de rios, planícies e morros, tem-se a seguinte equação:

MORROS SEM FLORESTA + RIOS COM MARGENS OCUPADAS + MEIO URBANO IMPERMEABILIZADO + CHUVAS TORRENCIAIS = PERDA DE VIDAS + PERDA DE SAÚDE + PERDA DE PATRIMÔNIO PÚBLICO E PRIVADO + GASTOS EXCESSIVOS PARA A RECUPERAÇÃO

E é possível acrescentar outra equação para a mesma região:

ÁREA DE MANANCIAIS DESMATADA + MÁ GESTÃO DA ÁGUA + MUDANÇAS CLIMÁTICAS = TORNEIRA SECA + GASTOS EXCESSIVOS PARA MINIMIZAR OS PROBLEMAS!

Sejamos bastante críticos e atentos com a cobertura vegetal de nosso meio urbano, cobrando do poder público e iniciativa privada mais responsabilidade com nosso patrimônio natural.

Cada um tem o dever de fazer sua parte, mas também de cobrar seus direitos. Visite o site da Aliança pela Água (www.aguasp.com.br) e veja o que muitas organizações não-governamentais e movimentos sociais estão fazendo.

Para maiores informações sobre os serviços ecossistêmicos de regulação de processos geohidrológicos, veja o capítulo sobre o tema (coordenado pelo professor Dr. Antonio Manoel de Oliveira, da Universidade de Guarulhos) no Sumário Executivo do livro “Serviços Ecossistêmicos e Bem-estar Humano na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo” (https://institutoaua.org.br/wp-content/uploads/2015/06/sumarioexecutivo.pdf).

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