Serviços Ecossistêmicos de Lazer e Turismo: que tal uma caminhada pela floresta para desestressar?

Por Bely Pires,
diretora do Instituto Auá

Ao se falar de serviços ecossistêmicos, podem vir à mente os temas mais falados ultimamente, como provisão e regulação de água, regulação do clima, da qualidade do ar, das enchentes ou dos deslizamentos… Isso porque, para quem vive em grandes centros urbanos, a falta destes serviços, pela substituição dos ecossistemas por infraestruturas urbanas, tem deixado as pessoas estressadas e muitas vezes doentes. Assim, é hora de se abordar o importantíssimo serviço ecossistêmico cultural de lazer e turismo.

O estilo de vida de nossa sociedade é fortemente embasado em trabalho e produtividade intensos, o que leva os indivíduos a se desgastarem física e emocionalmente. Não é por acaso que em feriados e finais de semana, formam-se imensos congestionamentos nas estradas:  todos querem descansar, ir para a serra, para a praia ou para o meio rural.

Na busca por todos esses destinos, há algo em comum: a proximidade com a natureza que nos oferece a experiência do descanso, da aventura, da contemplação de belas paisagens, do contato com água, o cheiro de mato, o mar, a terra… são benefícios que o ser humano obtém dos ecossistemas, mas que, ao contrário da água ou da regulação do ar e solos, não são serviços materiais nem processos ecológicos. São vivências e por isso chamados de “benefícios imateriais”.

Esse contato com a natureza possibilita momentos de questionamento sobre nosso modo de vida insustentável nos centros urbanos, causador de mal-estar e desequilíbrio. Assim, mais do que o lazer e o turismo, está se falando de processos educativos e reflexivos proporcionados pelos ecossistemas.

O turismo sustentável, principalmente o ecoturismo, turismo de aventura e turismo rural são as formas mais comuns de acesso a esses serviços ecossistêmicos, visto que em seu conceito há a noção de uso recreativo e responsável dos ecossistemas. No ecoturismo, por exemplo, há atividades de observação de fauna, flora, ou de formações rochosas. No turismo de aventura, há atividades de arvorismo, cachoeirismo, caminhadas, cavalgadas, escaladas, cicloturismo, canoagem, mergulho, balonismo, etc…. São diversas atividades por terra, água e ar que possibilitam o contato com a natureza e o bem-estar roubados pela rotina urbana. Daí a importância de se manter os ecossistemas que nos possibilitam usufruir desses serviços. Além disso, há a possibilidade de interagir com a cultura decorrente da relação entre a população local e a natureza, dando origem ao turismo rural.

No Estado de São Paulo, a Secretaria de Turismo estimula alguns circuitos turísticos, onde diversos serviços ecossistêmicos culturais podem ser usufruídos. O mapa a seguir mostra a distribuição desses circuitos.

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Por outro lado, a Secretaria de Meio Ambiente é responsável pelo programa Trilhas de São Paulo (http://trilhasdesaopaulo.sp.gov.br/), que estimula a visita a diversas Unidades de Conservação (UCs) estaduais, onde se pode obter o benefício do descanso, recreação, contemplação e atividade física. Das 40 trilhas sugeridas, nove estão situadas na área abrangida pela Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo (RBCV).

Contudo, os ecossistemas dessas UCs e de outros locais estão seriamente ameaçados pela expansão da mancha urbana, com o avanço de novos condomínios, galpões de logística, infraestrutura viária e equipamentos urbanos em geral, estimulados pelo Rodoanel e pela venda de áreas de reflorestamento antes pertencentes a indústrias de papel e celulose, dando lugar à especulação imobiliária.

É necessário que se pense em políticas públicas mais responsáveis no que se refere ao uso e ocupação do solo, pois a perda de serviços ecossistêmicos está chegando a níveis alarmantes e insuportáveis. Vamos pensar mais nisso na próxima viagem, enquanto o carro fica preso no engarrafamento da estrada…

Mais informações sobre este tema poderão ser obtidas no capítulo sobre Serviços Ecossistêmicos de Lazer e Turismo, coordenado por Rodrigo Machado e Vanessa Cordeiro, do livro “Serviços Ecossistêmicos e Bem-estar Humano na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo”, organizado por uma parceria entre Instituto Auá, Instituto Florestal e Fundação Florestal. O Sumário Executivo do livro pode ser acessado clicando aqui.

 

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