Expedição Primeiro Prato descobre uso das frutas nativas na infância

Foi lançada em São Paulo, na primeira semana de maio, a Expedição Primeiro Prato, que visa apresentar a variedade de frutas e saberes de comunidades da Mata Atlântica Paulista para estimular sua introdução na alimentação infantil. Uma plataforma digital reúne todo este conhecimento, bem como os locais onde achar os ingredientes nativos, a exemplo do Boxe do Instituto AUÁ no Mercado de Pinheiros.

O ideal da Expedição é nos revelar que a diversidade de frutas brasileiras pode ser introduzida na alimentação infantil, educando o gosto das crianças a partir de nossa identidade. Mas para chegar a esse novo olhar o caminho é longo, a equipe do projeto irá passar o ano de 2018 explorando a cultura gastronômica de comunidades tradicionais como a aldeia guarani Krukutu, em Parelheiros, os quilombolas do Vale do Ribeira e os caiçaras da região de Ubatuba. Afinal, todo hábito alimentar nasce da observação da cultura e se constrói justamente pelo interesse em experimentar.

É possível resgatar saberes e alimentos para formar novos paladares e práticas. “Conhecer o que ainda existe de bom na alimentação infantil, mostrar como cozinham e usam a biodiversidade, irá estimular a curiosidade e permitir novas receitas. Passamos a gostar de comer quando incorporamos sabores diferentes e fazemos experimentações. Atualmente há excesso de cuidado na primeira infância e mais da metade das crianças brasileiras possuem alguma dificuldade em se alimentar”, opina Karine Durães, responsável pelas fichas nutricionais dos ingredientes nativos que serão divulgadas.

A Expedição Primeiro Prato parte da lógica de que ingredientes nativos são pouco usados pois não há procura. E falta demanda pois não há conhecimento sobre estas espécies. Assim, foi criado o site www.primeiroprato.com.br, para hospedar todos os conteúdos colhidos nas expedições, na forma de vídeos documentários, fotos e textos que irão refletir a pluralidade dos saberes e ingredientes locais, inclusive apresentando receitas para crianças com estes mesmos ingredientes.

O projeto nasceu das mãos da chef Priscilla Moretto, criadora de papinhas orgânicas da linha Petit Tangerine, quando começou a se questionar sobre como incentivar o consumo de ingredientes mais diversificados na primeira infância, entre 6 meses e 3 anos. “Comecei com receitas simples, como a papinha de abóbora com ora-pro-nóbis, e passei a prestar mais atenção na Uvaia, Cambuci ou Pitanga, e o que fazer para incentivar seu consumo. Daí surgiu a ideia de estudar o bioma onde estamos, a Mata Atlântica e comunidades ancestrais que ainda mantêm contato maior com a natureza”, conta Priscilla.

Ela se juntou à amiga Karina Almeida e juntas conceberam o projeto, que obteve financiamento da Lei de Incentivo à Cultura do Estado de SP – ProacSP. Com início em maio, já é possível calcular benefícios que terá para a dieta das crianças, que vão da apuração do paladar ao estímulo a se experimentar sabores até então misteriosos.

Segundo Priscilla, uma das características marcantes das crianças da aldeia indígena de Parelheiros, por exemplo, é a naturalidade com que convivem com as plantas e a comida. “Não têm medo de provar, conversam enquanto comem e digo até que há menos doenças alérgicas pois elas mantêm um contato com a terra que permite ao organismo criar defesas naturais”, destaca.

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