Biodiversidade – a surpresa da vida

Por Bely Pires
diretora do Instituto Auá

Imagine um mundo onde tudo fosse igual: pessoas com a mesma cara, o mesmo corpo, o mesmo jeito; um único tipo de planta ou um único tipo de animal. Viveríamos num mundo sem graça e monótono, sem surpresas e possibilidades de maiores evoluções.

Graças à biodiversidade nosso planeta é tão rico e interessante. Biodiversidade é, como o próprio nome diz, diversidade de vida, de espécies animais e vegetais, de diferentes tamanhos e formas (dos visíveis aos invisíveis a olho nu), que habitem terra, água ou ar. A biodiversidade é tão importante que recebeu um tratado da Organização das Nações Unidas, a chamada Convenção da Diversidade Biológica – CDB (http://www.mma.gov.br/biodiversidade/convencao-da-diversidade-biologica), estabelecido durante a Eco 92, evento mundial sobre meio ambiente, que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro em 1992. Esse tratado tem como base três temas: a conservação da biodiversidade, seu uso sustentável e a repartição justa e equitativa dos benefícios resultantes do uso de recursos genéticos.

E por falar em benefícios, a biodiversidade também é importante para a existência de serviços ecossistêmicos de suporte, que ao contrário de benefícios obtidos diretamente pelo ser humano, possibilitam a existência dos serviços ecossistêmicos de provisão, regulação e culturais. Dentre estes serviços, destacamos por exemplo a polinização feita por abelhas que, segundo a professora Vera Lúcia Imperatriz Fonseca (USP), é financeiramente valiosíssima por representar 10% do valor da produção agrícola mundial. Em 2007, cientistas estimam que esse valor correspondia a US$ 212 bilhões! E as abelhas nem pedem depósito em conta corrente pelo precioso serviço prestado… A natureza faz isso gratuitamente. Ainda segundo a professora Vera, 75% da alimentação humana dependem de alguma forma da polinização. O que comprova o papel do serviço de suporte da polinização para a provisão de alimentos.

A biodiversidade também é importante para a formação e conservação dos solos e da água, ou seja, contribui com a existência dos serviços ecossistêmicos de suporte de ciclagem de nutrientes e produção primária, além dos serviços de regulação de solos (dificultando os processos erosivos) e de provisão de água (por contribuir com sua infiltração no solo e abastecimento do lençol freático).

Também contribui com a existência de plantas que são responsáveis pelo serviço ecossistêmico de regulação do sequestro de carbono e da qualidade do ar. Por tudo isso, estamos falando da importância da biodiversidade para o bem-estar humano, o que pode ser traduzido por menos riscos de acidentes naturais, menos doenças respiratórias, menos doenças por água contaminada.

Comentamos em outro boletim sobre a importância de plantas e animais para a existência de serviços ecossistêmicos de provisão de produtos bioquímicos, medicamentos naturais e produtos farmacêuticos, que contribuem para o tratamento de doenças. Estes serviços ecossistêmicos só existem porque existe biodiversidade.

A importância da biodiversidade e sua relação com serviços ecossistêmicos é tão grande que em 2012 foi criada a Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês – http://www.ipbes.net/), que busca avaliar o estado da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos no planeta, e as soluções que minimizem o impacto negativo sobre os mesmos.

Na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo (RBCV), com predomínio da Mata Atlântica, a biodiversidade é muito rica, mas seriamente ameaçada. Os vetores de alteração são diversos: mudanças climáticas, que afetam o planeta de forma geral; poluição, que contamina terra, água e ar; forte exploração de recursos naturais; espécies exóticas invasoras (espécies não nativas da região e que ameaçam a permanência de espécies nativas); especulação imobiliária e obras de infraestrutura, vetores de alteração fortemente presentes nesta região, já que a RBCV abrange a região metropolitana de São Paulo e Baixada Santista. Como resultado, aproximadamente 38% de espécies de vertebrados ameaçados de extinção no Estado de São Paulo estão na RBCV.

Mais informações sobre este tema estarão disponíveis no capítulo sobre Biodiversidade (coordenado por Natália Macedo Ivanauskas e Alexsander Zamorano Antunes, do Instituto Florestal) do livro “Serviços Ecossistêmicos e Bem-estar Humano na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo”, a ser lançado ao final deste ano. O Sumário Executivo deste livro já está disponível (baixe aqui).

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